Pequi é do Cerrado

Detalhes bibliográficos
Principais autores: Otávio Borges Maia, Ana Raquel Gomes Faria
Formato: Online
Publicado em: 2023
Assuntos:
Acesso em linha:https://canalciencia.ibict.br/ciencia-em-sintese/artigo?item_id=28065
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abstract Após dois anos de reabilitação, a loba-guará Pequi volta ao seu <i>habitat</i>. Os desafios enfrentados por ela só estão no começo: ela precisará lidar com a competição pelos recursos que garantirão a sua sobrevivência.
coverage A reabilitação é uma ferramenta de conservação da biodiversidade que oferece ao animal resgatado a chance de retornar e sobreviver na natureza. E o que se espera da Pequi após a reabilitação? Que ela seja capaz de sobreviver na natureza, no seu <i>habitat</i>, manifestando comportamentos e habilidades típicos da espécie para encontrar água, alimento, abrigo, caçar, defender-se ou fugir de predadores e potenciais ameaças, comunicar-se, reproduzir, defender os filhotes e ensiná-los a sobreviver. Dentre os aspectos avaliados após a soltura, a predação é fundamental para indicar se o espécime está conseguindo se alimentar através da caça. Uma vez solta, a Pequi definirá o seu território e precisará lidar com a competição pelos recursos que garantirão a sua sobrevivência. Essa competição envolve desde o consumo de frutos e pequenas presas (aves, répteis, marsupiais, roedores), que também são alimentos de outras espécies — inclusive de outros canídeos como o cachorro-do-mato e a raposinha-do-campo —, até confrontos com outros lobos.
Caricaturas das seis espécies de canídeos silvestres que ocorrem no Brasil
Os projetos de reabilitação de lobos-guarás pretendem definir um protocolo para reabilitar filhotes resgatados da natureza. Regra geral, esses filhotes são destinados ao cativeiro, para zoológicos ou criadouros conservacionistas devidamente registrados junto ao Ibama ou aos órgãos estaduais de governança ambiental. A reabilitação e soltura de lobos-guarás estão previstas no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Canídeos, elaborado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), unidade de pesquisa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com a participação de pesquisadores de diversas instituições.
Pequi logo após a soltura
Em junho de 2020, cinco filhotes de lobo-guará foram resgatados na Bahia, com cerca de 30 dias de vida, após a morte da mãe. Araticum, Baru, Mangaba, Seriguela e Pequi passaram alguns meses sob os cuidados do Zoológico de Brasília até o início da reabilitação, termo técnico usado para definir a recuperação das condições sanitárias, físicas e comportamentais de um animal silvestre, de modo que o permita se desenvolver em seu ambiente natural de forma independente e de acordo com as características biológicas de sua espécie.
Os cinco órfãos resgatados
Criação à mão no Zoo de Brasília
Quando completaram seis meses de vida, Araticum e Mangaba retornaram ao local de nascimento, aos cuidados do Criadouro Conservacionista da Fazenda Trijunção e dos técnicos do Onçafari, no município de Jaborandi, Bahia. Baru, Seriguela e Pequi foram para o Parque Vida Cerrado, centro de conservação da biodiversidade, pesquisa e educação socioambiental do oeste baiano, sediado em Barreiras. Em janeiro de 2022, após a campanha de financiamento coletivo #AjudeaPequi, Pequi retornou ao Distrito Federal sob os cuidados da Jaguaracambé, organização não governamental sediada em Brasília, que tem por finalidade apoiar e desenvolver ações para a conservação da biodiversidade. Dando continuidade à reabilitação, Pequi foi transferida para a Reserva Ecológica Paraíso na Terra, localizada em Brazlândia, onde passou por um treinamento antes de ser solta, em março de 2023.
Tímido, arisco, mas muito curioso, o lobo-guará vive sozinho em territórios que podem medir de 25 a 100 km², dependo da qualidade do ambiente — principalmente da oferta de água e alimentos — e da presença de outros lobos. Na natureza, o lobo-guará ingere frutos do cerrado e caça pequenas presas, como ratos silvestres, preás, tatus, aves e lagartos. Prefere manter-se longe dos humanos e protege a sua área de vida de outros lobos — exceto do parceiro —, que não costumam ser bem recebidos. Companhia, só durante a estação reprodutiva, de março a agosto, quando o casal se encontra, permanecendo junto para acasalar e cuidar dos filhotes que nascem após nove semanas de gestação, com a pelagem bem escura e a ponta do rabo branca. À medida que crescem, os filhotes adquirem a pelagem ferruginosa típica da espécie. E aqui vai uma curiosidade: lobos-guarás são monogâmicos e o mesmo casal se reencontra a cada estação reprodutiva, por toda a vida.
Baru, Seriguela e Pequi em janeiro de 2022
A primeira tentativa de reabilitação de um lobo-guará ocorreu na Serra da Canastra, em dezembro de 2017. Desde então, outras estão em curso, como a da Pequi. O objetivo dessas experiências é criar um protocolo de reabilitação (treinamento e soltura) para órfãos resgatados, que possa ser utilizado em diferentes regiões do bioma Cerrado, com suas diferentes fitofisionomias (características da vegetação) — que interferem na disponibilidade de frutos e presas —, e que possa ser adaptado ao temperamento particular de cada filhote.
O primeiro passo para dar continuidade à reabilitação da Pequi foi a construção de um grande cercado, chamado de recinto, na Reserva Ecológica Paraíso da Terra. Nele, a Pequi permaneceu de janeiro de 2022 a abril de 2023, quando foi solta. Diariamente, a Pequi recebia alimentação composta por frutas comerciais (abacate, abacaxi, atemoia, banana, goiaba, maçã, mamão, manga, melancia, melão, morango), frutos do cerrado (como fruta-do-lobo, araticum, bacupari, cajuzinho, corriola, graviola, mangaba), ração canina, proteína animal e presas. As interações com humanos eram restritas, apenas com alguns membros da equipe responsável por alimentá-la. Duas câmeras ainda transmitem e gravam imagens do recinto e do seu entorno 24 h por dia. Foram elas que flagraram, várias vezes, dois lobos selvagens, que vivem na região, visitando o recinto da Pequi durante a estação reprodutiva.
Croqui do recinto de reabilitação com vegetação nativa
O lobo-guará é comedor de frutos e dispersor de sementes, como da lobeira, abundante no Paraíso na Terra
Em março de 2023, Pequi recebeu um radiocolar, um tipo de coleira equipada com dois transmissores: um grava a localização (coordenada geográfica) dela a cada hora e transmite esses registros de por onde ela passou a cada seis horas, por meio do GPS (Global Positioning System); o outro transmite um sinal, analógico ou digital, de alta frequência ou VHS (Very High Frequency), o mesmo usado nas transmissões de rádio e televisão, que pode ser captado por um receptor ligado a uma antena. Esse método de monitoramento é chamado de radiotelemetria. O radiocolar também informa se o animal está morto e possui um mecanismo que o faz se desprender do animal após um período programado.
A instalação do radiocolar foi feita com a Pequi sedada. No colar, foram coladas tiras de fita reflexiva que o tornam mais visível, ajudando na prevenção de atropelamento
Pequi deixando o recinto de reabilitação na tarde do dia 17 de abril de 2023
O acesso às informações enviadas pelo GPS se dá por meio de um aplicativo para celular. O conjunto de pontos de localização permite a identificação dos locais por onde a Pequi está andando e, principalmente, a entender se ela está ativa ou corre algum risco — por exemplo, por estar próxima a uma rodovia. O GPS, complementado com a radiotelemetria, dá à equipe técnica que acompanha a reabilitação a oportunidade de avistar a Pequi e avaliar a condição física dela.
O sistema GPS apresenta as localizações da Pequi sobre um mapa. Os números representam concentrações de pontos de localização
Na radiotelemetria, um receptor ligado a uma antena capta o sinal (bipe) emitido pelo radiocolar
A Pequi também participa de duas outras pesquisas: monitoramento de longo prazo do ritmo cardíaco e caracterização da microbiota intestinal de lobos-guarás. Na primeira, um <i>biologger</i> (dispositivo de armazenamento de dados) implantado debaixo da pele, na região torácica, próximo ao coração, registra, a cada dois minutos, a frequência cardíaca. Os dados coletados por esse monitor cardíaco ajudarão a avaliar a saúde e o comportamento da Pequi ao longo da reabilitação. A medição dos batimentos cardíacos também permite a avaliação da resposta dos animais a estímulos externos, como aquecimento global, perda de habitat e interações com o ambiente e outras espécies. A segunda pesquisa, sobre aspectos microbiológicos e nutricionais das dietas de lobos-guarás, caracteriza a diversidade da microbiota intestinal a partir de amostras de fezes, por meio da técnica <i>DNA Metabarcoding</i>. A correlação entre os itens alimentares consumidos pelo lobo-guará e o conjunto de micro-organismos presentes nas fezes pode ajudar a compreender o impacto das alterações do <i>habitat</i> na dieta e na saúde dos animais.
institution Financiamento coletivo
publishDate 2023
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Uma vez solta, a Pequi definirá o seu território e precisará lidar com a competição pelos recursos que garantirão a sua sobrevivência. Essa competição envolve desde o consumo de frutos e pequenas presas (aves, répteis, marsupiais, roedores), que também são alimentos de outras espécies — inclusive de outros canídeos como o cachorro-do-mato e a raposinha-do-campo —, até confrontos com outros lobos. Caricaturas das seis espécies de canídeos silvestres que ocorrem no Brasil Os projetos de reabilitação de lobos-guarás pretendem definir um protocolo para reabilitar filhotes resgatados da natureza. Regra geral, esses filhotes são destinados ao cativeiro, para zoológicos ou criadouros conservacionistas devidamente registrados junto ao Ibama ou aos órgãos estaduais de governança ambiental. A reabilitação e soltura de lobos-guarás estão previstas no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Canídeos, elaborado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), unidade de pesquisa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com a participação de pesquisadores de diversas instituições. Pequi logo após a soltura Em junho de 2020, cinco filhotes de lobo-guará foram resgatados na Bahia, com cerca de 30 dias de vida, após a morte da mãe. Araticum, Baru, Mangaba, Seriguela e Pequi passaram alguns meses sob os cuidados do Zoológico de Brasília até o início da reabilitação, termo técnico usado para definir a recuperação das condições sanitárias, físicas e comportamentais de um animal silvestre, de modo que o permita se desenvolver em seu ambiente natural de forma independente e de acordo com as características biológicas de sua espécie. Os cinco órfãos resgatados Criação à mão no Zoo de Brasília Quando completaram seis meses de vida, Araticum e Mangaba retornaram ao local de nascimento, aos cuidados do Criadouro Conservacionista da Fazenda Trijunção e dos técnicos do Onçafari, no município de Jaborandi, Bahia. Baru, Seriguela e Pequi foram para o Parque Vida Cerrado, centro de conservação da biodiversidade, pesquisa e educação socioambiental do oeste baiano, sediado em Barreiras. Em janeiro de 2022, após a campanha de financiamento coletivo #AjudeaPequi, Pequi retornou ao Distrito Federal sob os cuidados da Jaguaracambé, organização não governamental sediada em Brasília, que tem por finalidade apoiar e desenvolver ações para a conservação da biodiversidade. Dando continuidade à reabilitação, Pequi foi transferida para a Reserva Ecológica Paraíso na Terra, localizada em Brazlândia, onde passou por um treinamento antes de ser solta, em março de 2023. Tímido, arisco, mas muito curioso, o lobo-guará vive sozinho em territórios que podem medir de 25 a 100 km², dependo da qualidade do ambiente — principalmente da oferta de água e alimentos — e da presença de outros lobos. Na natureza, o lobo-guará ingere frutos do cerrado e caça pequenas presas, como ratos silvestres, preás, tatus, aves e lagartos. Prefere manter-se longe dos humanos e protege a sua área de vida de outros lobos — exceto do parceiro —, que não costumam ser bem recebidos. Companhia, só durante a estação reprodutiva, de março a agosto, quando o casal se encontra, permanecendo junto para acasalar e cuidar dos filhotes que nascem após nove semanas de gestação, com a pelagem bem escura e a ponta do rabo branca. À medida que crescem, os filhotes adquirem a pelagem ferruginosa típica da espécie. E aqui vai uma curiosidade: lobos-guarás são monogâmicos e o mesmo casal se reencontra a cada estação reprodutiva, por toda a vida. Baru, Seriguela e Pequi em janeiro de 2022 A primeira tentativa de reabilitação de um lobo-guará ocorreu na Serra da Canastra, em dezembro de 2017. Desde então, outras estão em curso, como a da Pequi. O objetivo dessas experiências é criar um protocolo de reabilitação (treinamento e soltura) para órfãos resgatados, que possa ser utilizado em diferentes regiões do bioma Cerrado, com suas diferentes fitofisionomias (características da vegetação) — que interferem na disponibilidade de frutos e presas —, e que possa ser adaptado ao temperamento particular de cada filhote. O primeiro passo para dar continuidade à reabilitação da Pequi foi a construção de um grande cercado, chamado de recinto, na Reserva Ecológica Paraíso da Terra. Nele, a Pequi permaneceu de janeiro de 2022 a abril de 2023, quando foi solta. Diariamente, a Pequi recebia alimentação composta por frutas comerciais (abacate, abacaxi, atemoia, banana, goiaba, maçã, mamão, manga, melancia, melão, morango), frutos do cerrado (como fruta-do-lobo, araticum, bacupari, cajuzinho, corriola, graviola, mangaba), ração canina, proteína animal e presas. As interações com humanos eram restritas, apenas com alguns membros da equipe responsável por alimentá-la. Duas câmeras ainda transmitem e gravam imagens do recinto e do seu entorno 24 h por dia. Foram elas que flagraram, várias vezes, dois lobos selvagens, que vivem na região, visitando o recinto da Pequi durante a estação reprodutiva. Croqui do recinto de reabilitação com vegetação nativa O lobo-guará é comedor de frutos e dispersor de sementes, como da lobeira, abundante no Paraíso na Terra Em março de 2023, Pequi recebeu um radiocolar, um tipo de coleira equipada com dois transmissores: um grava a localização (coordenada geográfica) dela a cada hora e transmite esses registros de por onde ela passou a cada seis horas, por meio do GPS (Global Positioning System); o outro transmite um sinal, analógico ou digital, de alta frequência ou VHS (Very High Frequency), o mesmo usado nas transmissões de rádio e televisão, que pode ser captado por um receptor ligado a uma antena. Esse método de monitoramento é chamado de radiotelemetria. O radiocolar também informa se o animal está morto e possui um mecanismo que o faz se desprender do animal após um período programado. A instalação do radiocolar foi feita com a Pequi sedada. No colar, foram coladas tiras de fita reflexiva que o tornam mais visível, ajudando na prevenção de atropelamento Pequi deixando o recinto de reabilitação na tarde do dia 17 de abril de 2023 O acesso às informações enviadas pelo GPS se dá por meio de um aplicativo para celular. O conjunto de pontos de localização permite a identificação dos locais por onde a Pequi está andando e, principalmente, a entender se ela está ativa ou corre algum risco — por exemplo, por estar próxima a uma rodovia. O GPS, complementado com a radiotelemetria, dá à equipe técnica que acompanha a reabilitação a oportunidade de avistar a Pequi e avaliar a condição física dela. O sistema GPS apresenta as localizações da Pequi sobre um mapa. Os números representam concentrações de pontos de localização Na radiotelemetria, um receptor ligado a uma antena capta o sinal (bipe) emitido pelo radiocolar A Pequi também participa de duas outras pesquisas: monitoramento de longo prazo do ritmo cardíaco e caracterização da microbiota intestinal de lobos-guarás. Na primeira, um <i>biologger</i> (dispositivo de armazenamento de dados) implantado debaixo da pele, na região torácica, próximo ao coração, registra, a cada dois minutos, a frequência cardíaca. Os dados coletados por esse monitor cardíaco ajudarão a avaliar a saúde e o comportamento da Pequi ao longo da reabilitação. A medição dos batimentos cardíacos também permite a avaliação da resposta dos animais a estímulos externos, como aquecimento global, perda de habitat e interações com o ambiente e outras espécies. A segunda pesquisa, sobre aspectos microbiológicos e nutricionais das dietas de lobos-guarás, caracteriza a diversidade da microbiota intestinal a partir de amostras de fezes, por meio da técnica <i>DNA Metabarcoding</i>. A correlação entre os itens alimentares consumidos pelo lobo-guará e o conjunto de micro-organismos presentes nas fezes pode ajudar a compreender o impacto das alterações do <i>habitat</i> na dieta e na saúde dos animais. Projeto de reabilitação e soltura de filhote de <i>Chrysocyon brachyurus</i> em área de propriedade privada inserida na APA da Cafuringa, Distrito Federal Após dois anos de reabilitação, a loba-guará Pequi volta ao seu <i>habitat</i>. Os desafios enfrentados por ela só estão no começo: ela precisará lidar com a competição pelos recursos que garantirão a sua sobrevivência. 2023-05-22 https://jaguaracambe.org/pequi.html Ciências Biológicas O primeiro passo para dar continuidade à reabilitação da Pequi foi a construção de um grande cercado, chamado de recinto, na Reserva Ecológica Paraíso da Terra. Nele, a Pequi permaneceu de janeiro de 2022 a abril de 2023, quando foi solta. Diariamente, a Pequi recebia alimentação composta por frutas comerciais (abacate, abacaxi, atemoia, banana, goiaba, maçã, mamão, manga, melancia, melão, morango), frutos do cerrado (como fruta-do-lobo, araticum, bacupari, cajuzinho, corriola, graviola, mangaba), ração canina, proteína animal e presas. As interações com humanos eram restritas, apenas com alguns membros da equipe responsável por alimentá-la. Duas câmeras ainda transmitem e gravam imagens do recinto e do seu entorno 24 h por dia. Foram elas que flagraram, várias vezes, dois lobos selvagens, que vivem na região, visitando o recinto da Pequi durante a estação reprodutiva. Croqui do recinto de reabilitação com vegetação nativa O lobo-guará é comedor de frutos e dispersor de sementes, como da lobeira, abundante no Paraíso na Terra Em março de 2023, Pequi recebeu um radiocolar, um tipo de coleira equipada com dois transmissores: um grava a localização (coordenada geográfica) dela a cada hora e transmite esses registros de por onde ela passou a cada seis horas, por meio do GPS (Global Positioning System); o outro transmite um sinal, analógico ou digital, de alta frequência ou VHS (Very High Frequency), o mesmo usado nas transmissões de rádio e televisão, que pode ser captado por um receptor ligado a uma antena. Esse método de monitoramento é chamado de radiotelemetria. O radiocolar também informa se o animal está morto e possui um mecanismo que o faz se desprender do animal após um período programado. A instalação do radiocolar foi feita com a Pequi sedada. No colar, foram coladas tiras de fita reflexiva que o tornam mais visível, ajudando na prevenção de atropelamento Pequi deixando o recinto de reabilitação na tarde do dia 17 de abril de 2023 O acesso às informações enviadas pelo GPS se dá por meio de um aplicativo para celular. O conjunto de pontos de localização permite a identificação dos locais por onde a Pequi está andando e, principalmente, a entender se ela está ativa ou corre algum risco — por exemplo, por estar próxima a uma rodovia. O GPS, complementado com a radiotelemetria, dá à equipe técnica que acompanha a reabilitação a oportunidade de avistar a Pequi e avaliar a condição física dela. O sistema GPS apresenta as localizações da Pequi sobre um mapa. Os números representam concentrações de pontos de localização Na radiotelemetria, um receptor ligado a uma antena capta o sinal (bipe) emitido pelo radiocolar A Pequi também participa de duas outras pesquisas: monitoramento de longo prazo do ritmo cardíaco e caracterização da microbiota intestinal de lobos-guarás. Na primeira, um <i>biologger</i> (dispositivo de armazenamento de dados) implantado debaixo da pele, na região torácica, próximo ao coração, registra, a cada dois minutos, a frequência cardíaca. Os dados coletados por esse monitor cardíaco ajudarão a avaliar a saúde e o comportamento da Pequi ao longo da reabilitação. A medição dos batimentos cardíacos também permite a avaliação da resposta dos animais a estímulos externos, como aquecimento global, perda de habitat e interações com o ambiente e outras espécies. A segunda pesquisa, sobre aspectos microbiológicos e nutricionais das dietas de lobos-guarás, caracteriza a diversidade da microbiota intestinal a partir de amostras de fezes, por meio da técnica <i>DNA Metabarcoding</i>. 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