Resumo: | Pasteur nasceu em uma família de artesãos. Seus bisavô, avô e pai eram curtidores – trabalhavam transformando pele em couro, na cidade de Salins (França). No início do século XIX, Napoleão Bonaparte buscou expandir seus territórios, gerando conflitos armados na Europa. Jean-Joseph, pai de Pasteur, lutou no front espanhol e, ao retornar da guerra, aproximou-se de Jeanne-Étiennette Roqui, com quem se casou e mudou-se para a cidade de Dole, em 1816. O casal criou quatro crianças: Jeanne-Antoine, Louis, Joséphine e Émilie. Enquanto único filho homem, Louis tinha posição de autoridade sobre as irmãs – traço esse bastante marcante em sua personalidade (ROBBINS, 2001).
Aos quatro anos, mudou-se com sua família para Arbois, cidade onde passou sua infância e parte da juventude, criado em meio a valores compartilhados por setores da classe média francesa do período: patriotismo, trabalho duro, devoção à família e à religião. Ao terminar os estudos em Arbois, matriculou-se em outra escola secundária, em Besançon, que possuía um currículo mais completo, a fim de melhorar sua formação. Pasteur dividia seu tempo entre os estudos e uma tutoria que lhe garantia alojamento, alimentação e um pequeno salário. Mas precisou fazer os exames de conclusão do curso duas vezes para ser aprovado (ROBBINS, 2001).
Decidiu continuar seus estudos na Escola Normal Superior de Paris (École normale supérieure Paris), mas passou em 15º lugar de 22 nos exames para ingresso na instituição. Sua personalidade exigente e arrogante o levou a estudar por mais um ano para conseguir uma colocação melhor. No colégio preparatório, em Paris, assistia às aulas, estudava com seu grande amigo Charles Chappuis, que conheceu na escola em Besançon, e frequentava palestras na Universidade de Sorbonne. Prestou novamente os exames e ingressou na École em 1843, onde além das aulas regulares, desenvolvia atividades em um laboratório de química (ROBBINS, 2001).
Foi nesse momento que descobriu seu interesse pela pesquisa, mas sabia que essa não era uma carreira fácil, pois, na França de seu tempo, a maior parte das pessoas que continuava os estudos em instituições de nível superior acabava trabalhando para o governo ou tornando-se professora. Mas diligência e ambição foram atributos que também marcaram a personalidade de Louis Pasteur. Ao final de seus estudos na École, recusou a oferta para dar aulas em uma escola secundária e passou a trabalhar como contratado no laboratório de um de seus ex-professores de química, Antoine Jérôme Balard (1802-1876), onde começou a estudar cristalografia. A cristalografia é um ramo da química que pesquisa cristais – corpos sólidos, de forma geométrica regular, formados tanto por compostos orgânicos, quanto por compostos inorgânicos, como flocos de neve (que são cristais feitos de água). As principais substâncias com as quais trabalhou foram os ácidos tartáricos, frequentemente encontrados em vinhos (ROBBINS, 2001).
Dois tipos de ácido tartárico já haviam sido isolados, mas nenhum cientista conseguia explicar por que eles tinham propriedades diferentes se sua fórmula química era a mesma. Estudando com afinco, Pasteur percebeu que os cristais de ácido tartárico podiam ter duas formas (ou simetrias) diferentes. Era isso que justificava a discrepância entre suas propriedades ópticas, ou seja, seu comportamento perante à luz. Tal descoberta lhe rendeu a atenção de Jean-Baptiste Biot (1774-1862), cientista que contribuiu muito para os estudos das propriedades ópticas das substâncias (ROBBINS, 2001).
Em 1848, em meio às revoltas populares que culminaram na abdicação do Rei Louis Philippe I e na instauração da Segunda República Francesa, Pasteur perdeu sua mãe. No ano seguinte, começou a trabalhar como professor substituto na Universidade de Estrasburgo, onde também passou a cortejar Marie Laurent, filha do diretor da instituição. Casaram-se em maio do mesmo ano e a moça logo percebeu como seria a rotina de esposa de um cientista obcecado com suas pesquisas. Privada de fazer planos, já que esses costumavam ser frustrados em vista da indisponibilidade do marido, Marie deu todo o apoio necessário a Pasteur, cuidando sozinha da casa e dos filhos – Jeanne, Jean-Baptiste e Cécile (ROBBINS, 2001).
Em 1852, quando o regime republicano recém-instaurado foi derrubado por Napoleão III, Pasteur tornou-se professor do quadro permanente da universidade. Continuou seus estudos buscando produzir no laboratório compostos orgânicos opticamente ativos. Ou seja, moléculas que são capazes de desviar a luz quando expostas a ela. Assim como outros cientistas que haviam tentado fazer isso, Pasteur não teve sucesso. Exausto e frustrado, pediu um período de descanso e, logo que retornou, recebeu uma proposta para ser professor de química e reitor em uma universidade em Lille, cidade para qual se mudou com sua família (ROBBINS, 2001).
Lá Pasteur começou a estudar a fermentação, processo a partir do qual alimentos como vinhos e queijos são produzidos. Ele sabia que certas moléculas resultantes deste fenômeno eram opticamente ativas e acreditava que apenas seres vivos poderiam produzir tal tipo de molécula. Fez experimentos com a fermentação do leite e identificou um microrganismo que chamou de “levedura lática”, formulando a hipótese de que a fermentação era um processo realizado por seres muito pequenos, impossíveis de se observar a olho nu. Para tentar validar essa ideia, purificou as “leveduras láticas” e as adicionou em uma solução com açúcar, observando o surgimento do mesmo composto produzido na fermentação do leite, o ácido lático (ROBBINS, 2001). Posteriormente, pesquisadores estabeleceram que o microrganismo responsável pela fermentação lática é uma bactéria (do tipo dos lactobacilos) e não uma levedura (que pertence ao grupo dos fungos).
Pasteur apresentou sua hipótese na Academia de Ciências de Paris, em 1857, gerando controvérsias, porque parte dos estudiosos, à época, acreditavam que a decomposição dos alimentos era um processo químico e não biológico (realizado por seres vivos). Apesar disso, a teoria de Pasteur passou a ser aceita por muitos membros da comunidade científica e pelos setores leigos da sociedade, os quais tinham contato com suas ideias através de palestras que dava e de cartas públicas que escrevia (LATOUR, 1988; ROBBINS, 2001). Quando falamos em setores “leigos” nos referimos aos membros da sociedade que não são estudiosos do tema.
Mas de onde vinham esses microrganismos? Muitos acreditavam que esses seres se originavam espontaneamente, da própria matéria em decomposição. Mas Pasteur defendia que, assim como plantas e animais, eles vinham de formas de vida semelhantes. Para defender seu ponto de vista, fez experimentos que, novamente, o envolveram em intermináveis controvérsias. Em um deles, colocou caldo de carne (fonte de matéria orgânica) em garrafas de vidro esterilizadas e, após lacrar as garrafas em um ambiente também estéril, observou que nenhum microrganismo havia crescido dentro delas. Em seguida, colocou um pedaço de tecido empoeirado dentro das garrafas e observou, depois de alguns dias, o surgimento dos mesmos. Para tentar provar que esses seres microscópicos estavam no ar, desenvolveu garrafas com pescoços em formato de “S”. Através deles o ar entrava no recipiente, mas as impurezas ficavam retidas. Quando o caldo de carne entrava em contato com o material preso no pescoço, os microrganismos apareciam. Mais uma vez, diferentes críticas surgiram e apenas por volta de 1880 a teoria da “geração espontânea” foi cientificamente refutada. Para isso contribuíram outros fatores, além dos esforços de Pasteur, a exemplo do desenvolvimento de microscópios mais potentes (ROBBINS, 2001).
No mesmo ano em que falou sobre a fermentação na Academia de Ciências, candidatou-se à vaga de administrador e diretor de estudos científicos na École, mudando-se para Paris. Neste emprego, utilizava seu tempo livre para fazer experimentos e promoveu algumas mudanças na instituição, concedendo que estudantes interessados permanecessem nela como pesquisadores e fundando um periódico que publicava artigos de alunos regulares e egressos. O período que se seguiu foi afetivamente turbulento para Pasteur. Sua filha mais velha, Jeanne, faleceu em 1859 e, em 1862, ele foi eleito membro da Academia de Ciências de Paris, depois de duas candidaturas recusadas. Um ano depois, nasceu Camille, que os deixou em 1865, em vista de um tumor no fígado e no mesmo ano em que o cientista perdeu seu pai (ROBBINS, 2001).
Nesse período, ao estudar a fermentação do vinho, um importante produto para a França, Pasteur descobriu que se eles fossem aquecidos a uma temperatura específica por determinado tempo, durante seu processo de produção, isso reduzia em muito sua probabilidade de estragar. O aumento da temperatura prejudicava a atividade dos microrganismos decompositores da bebida. A técnica de aquecimento ficou conhecida como “pasteurização” e, mais tarde, foi aplicada à produção de outros alimentos, como queijos e leite (ROBBINS, 2001). Atualmente, os vinhos não são mais pasteurizados e sua preservação é, em geral, feita com a adição de compostos químicos, chamados sulfitos.
Pasteur também atuou no combate à doença do bicho da seda, outro produto economicamente importante para a França. Montou uma equipe para investigar o adoecimento dos animais e descobriu que eles estavam sendo atacados por duas doenças causadas por microrganismos diferentes. Apesar de não terem encontrado formas de curá-las, desenvolveram algumas técnicas para sua prevenção. Mas essas foram desacreditadas pelos produtores de seda, por estudiosos do tema e por comerciantes que ganhavam dinheiro vendendo tecido importado e para quem não era interessante que as criações francesas se restabelecessem (ROBBINS, 2001).
Em meio a esses estudos, a personalidade autoritária de Pasteur lhe rendeu problemas na École – alguns estudantes o acusavam de perseguição e isso culminou em sua demissão. Assumiu, assim, o posto de professor de química na Faculdade Sorbonne, mas nunca chegou a exercê-lo de modo efetivo. Em 1868, teve um acidente vascular cerebral e precisou diminuir seu ritmo de trabalho. Após a guerra Franco-Prussiana, Pasteur aposentou-se de seu cargo na Sorbonne e, alguns anos depois, retornou à École para dirigir um laboratório. Foi quando começou a se interessar pelo fenômeno da imunidade adquirida contra certas doenças. A varíola já era prevenível através de uma vacina, desenvolvida pelo médico inglês Edward Jenner, no final do século XVIII. Mas será que esse princípio funcionaria para outras enfermidades? O cientista começou, então, a estudar a possibilidade de produção de vacinas para duas patologias que acometiam animais de corte – a cólera das galinhas e o antraz (ROBBINS, 2001).
Ao cultivar o microrganismo causador da cólera das galinhas no laboratório, Pasteur e sua equipe perceberam que quando galinhas saudáveis eram contaminadas com culturas mais recentes desses microrganismos, elas morriam. Já quando eram infectadas com as mais antigas, não adoeciam. A agressividade do microrganismo diminuía ao longo do tempo e galinhas saudáveis inoculadas com microrganismos menos agressivos produziam defesas contra ele, sem desenvolver sintomas graves da doença. Pasteur e sua equipe desenvolveram, assim, uma vacina contra a cólera das galinhas (ROBBINS, 2001).
Tão logo tal vacina foi considerada eficiente pela comunidade científica, apesar das usuais críticas, Pasteur e sua equipe começaram a trabalhar em uma contra o antraz. Estudos de Robert Koch (1843-1910) e Casimir-Joseph Davaine (1812-1882) já haviam evidenciado que o microrganismo responsável pela doença era uma bactéria, mas a equipe de cientistas franceses observava que as culturas do antraz não se tornavam menos agressivas com o tempo. Foi quando dois pesquisadores da equipe de Pasteur, Pierre Paul Emile Roux (1853-1933) e Charles Chamberland (1851-1908), decidiram testar um novo método de atenuação de microrganismos, desenvolvido por um professor da Escola de Veterinária de Toulouse, e tiveram sucesso, criando uma vacina contra o antraz. Pela enésima vez, críticas jorraram contra os cientistas, e para tentar convencer a sociedade da eficácia da vacina, eles aceitaram fazer um experimento público. Em 5 de maio de 1881, ovelhas, vacas e uma cabra receberam a primeira dose da vacina e doze dias depois a segunda. Em 31 de maio, os animais vacinados e um grupo não vacinado foram inoculados com os microrganismos causadores do antraz. Dois dias depois, constatou-se, diante de uma multidão, que os animais vacinados estavam vivos e os não vacinados, com exceção de dois, haviam morrido. O experimento performado por Pasteur, Roux e Chamberland teve repercussão mundial e contribuiu muito para a popularização da teoria dos germes. Diversos cientistas conseguiram reproduzir os resultados, confirmando a eficácia da vacina desenvolvida pela equipe (ROBBINS, 2001).
Em 1883, uma epidemia de cólera humana assolou o Egito, causando muitas mortes. Para tentarem identificar o microrganismo transmissor da doença, Pasteur enviou Émile Roux, o médico Isidore Straus (1845-1896), o professor de veterinária Edmond Nocard (1850-1903) e o assistente de laboratório Louis Thuillier (1856-1883). Mas logo depois de sua chegada, uma equipe alemã chefiada por Robert Koch também aportou no país. Os dois grupos fizeram experimentos com cobaias e autópsias em vítimas da doença, mas os resultados foram pouco animadores para os franceses. Para piorar a situação, Thuillier contaminou-se com a doença e faleceu cerca de um dia depois dos primeiros sintomas. A equipe alemã levou a melhor, anunciando que havia observado um micróbio em forma de vírgula nos corpos de vítimas da cólera. Koch partiu, assim, para a Índia, onde a doença também era bastante comum, a fim de confirmar sua hipótese. Pasteur, que nunca havia superado a derrubada da França na Guerra Franco-Prussiana, amargou três derrotas - a perda de seu assistente, o fracasso da equipe francesa e os louros levados por Robert Koch pela descrição da bactéria causadora da doença, o Vibrio cholerae. Um ano depois, a mesma enfermidade assolou a cidade de Toulon (França) e, novamente, Pasteur se viu assombrado pelos alemães. Enviou Roux e Straus para continuarem seus estudos, advertindo-os para não fazerem experimentos e observações junto com a equipe germânica, que também havia chegado a Toulon, mas Roux e Straus o desobedeceram. Em um artigo publicado posteriormente, Koch afirma que havia realizado uma autópsia junto com os cientistas franceses (ROBBINS, 2001).
Pasteur e sua equipe haviam dado importantes contribuições para a produção do conhecimento sobre diferentes doenças, mas nenhuma delas acometia seres humanos diretamente. Os críticos do cientista francês, sobretudo, lhe cobravam resultados nesse sentido e, naturalmente, isso feria o ego inflado de Pasteur. Assim, começou a estudar a hidrofobia, doença popularmente conhecida como raiva, a qual afetava não somente animais, mas também pessoas. A raiva tinha um apelo social muito grande, porque, apesar de não ser frequente, provocava sintomas horríveis, como convulsões, delírios e agressividade, criando uma imagem popular grotesca de suas vítimas (ROBBINS, 2001).
Mas as pesquisas com essa doença possuíam algumas dificuldades. Pasteur não conseguiu identificar seu micróbio transmissor. Aliás, isso só foi feito nos anos de 1930, com o desenvolvimento de microscópios mais potentes, capazes de detectar elementos bem menores, como os vírus que são, justamente, os agentes causadores da raiva. Mas além disso, Pasteur e sua equipe precisavam de um meio para acelerar o aparecimento dos sintomas nas cobaias. Roux foi quem encontrou a solução para esse problema. Ao infectar o cérebro de um cachorro com tecido retirado de um animal raivoso, conseguiu que os sinais da doença se manifestassem mais rapidamente. Assim, começaram a trabalhar em uma vacina contra a raiva utilizando inicialmente um método chamado “passagem em série”. A técnica, que, ironicamente havia sido desenvolvida por Robert Koch, consistia na infecção de uma cobaia saudável com material retirado de um animal infectado e assim sucessivamente. A equipe descobriu que em macacos, a doença se tornava menos agressiva a cada passagem e usou isso para criar uma vacina a partir deste princípio (ROBBINS, 2001).
A vacina mostrou-se eficaz em animais, mas poderia não servir para humanos e a equipe não podia sair fazendo testes em pessoas como se fossem cobaias. Pasteur decidiu, então, aprimorá-la e depois testá-la em pessoas – afinal, segundo sua lógica, a raiva era fatal e a vacina só seria aplicada quando o indivíduo tivesse sido exposto à doença. Se funcionasse, a vítima seria salva. Se ela não fosse eficaz ou causasse complicações, o indivíduo já morreria, de todo modo. Mas, na prática, não era bem assim. Em primeiro lugar, poucas vezes se conseguia constatar se os animais que mordiam as pessoas tinham, de fato, raiva. Além disso, poucas pessoas mordidas por animais raivosos desenvolviam a doença. Por fim, a morte só era certa depois que os sintomas apareciam e, nesse estágio, havia grandes possibilidades de a vacina não surtir efeito (ROBBINS, 2001).
Um dia, enquanto colocava um material na incubadora, uma máquina capaz de manter constante a temperatura de recipientes utilizados em experimentos, que Roux utilizava, Pasteur viu que o colega estava trabalhando em uma técnica que poderia ser a chave para atenuar com segurança o microrganismo transmissor da raiva. Decidiu estudar a mesma técnica e logo desenvolveu uma vacina que considerava mais confiável. Os primeiros pacientes a receberam a vacina foram um senhor e uma menina. Segundo os médicos que contataram Pasteur, ambos haviam sido mordidos por cães e estariam manifestando sintomas de raiva. O homem recebeu uma dose da vacina, mas o hospital no qual estava internado não permitiu que o tratamento continuasse. Apesar de ter tido alta da instituição, não se sabe sobre seu destino. A menina recebeu duas doses da vacina e morreu. Quase ninguém sabia sobre esses dois pacientes até que certos cadernos de laboratório de Pasteur, antes mantidos secretos, foram disponibilizados para o público, no final do século XX (GEISON, 1995; ROBBINS, 2001).
A equipe continuou se empenhando em aprimorar a substância, desenvolvendo uma composição que fosse suficientemente agressiva para estimular o corpo a criar a defesa contra a doença, mas não tanto a ponto de causar danos a ele. Os pacientes seguintes foram Joseph Meister e Jean-Baptiste Jupille. Ambos receberam doses da vacina e permaneceram saudáveis. Mas a decisão de tratar Meister foi muito arriscada, pois, ao contrário de Jupille, que, sabia-se, havia sido mordido por um animal raivoso, ele não apresentava sintomas da doença e nem tinha certeza de que o animal que o atacara estivesse doente. E se ele não viesse a desenvolver a doença? A vacina, que ainda não havia sido suficientemente testada, poderia lhe causar mal ou até matá-lo. Ainda assim, muitos acreditavam que Pasteur havia encontrado a cura para a raiva. Mas essa conclusão era prematura, pois a quantidade de pacientes tratados com sucesso era muito pequena e houve outros resultados bastante ruins. Roux descobriu que um menino que havia recebido o tratamento tinha morrido de raiva e não de falência renal como indicava o relatório de sua autópsia. Para tentar evitar que as pessoas deixassem de procurar tratamento, Pasteur pediu que Roux mentisse sobre esse episódio (GEISON, 1995; ROBBINS, 2001).
Pasteur ficou mundialmente conhecido e solidificou seu prestígio nacional e internacional frente a cientistas, à sociedade civil e ao governo francês. Defendia a necessidade da criação de um centro de tratamento para raiva e, assim, foi aprovada a fundação do Instituto Pasteur – uma instituição privada que seria mantida através de doações (que chegavam de todo o mundo naquele momento). O instituto seria também de ensino e desenvolveria pesquisas sobre outras doenças. Mas a saúde de Pasteur tornava-se cada dia mais frágil, impedindo que ele tivesse uma atuação mais presente na instituição. Em 1887, teve um outro AVC que prejudicou muito sua fala, afastando-o do trabalho (ROBBINS, 2001).
Em 1894, ainda pôde assistir a Roux e Alexandre Yersin (1863-1943) desenvolverem um tratamento para a difteria no Instituto Pasteur, para o qual também contribuíram os trabalhos do cientista alemão Emil von Behring (1854-1917) e do japonês Shibasaburo Kitasato (1853-1931). Mas Pasteur não compareceu à cerimônia de honra justamente por conta de sua rusga com a Alemanha. Faleceu em setembro de 1895, por conta de um terceiro AVC. Foi enterrado como um grande herói nacional – seu enorme ego, certamente, não teria esperado menos. Assim como outros cientistas, Pasteur gostava de se promover e fazia isso articulando-se a pessoas e instituições com grande potencial para apoiar suas pesquisas e resultados do ponto de vista econômico, político e sociocultural.
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