Resumo: | Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife, Pernambuco, em 19 de setembro de 1921. Filho de um policial militar e de uma dona de casa, tinha dois irmãos e uma irmã. O sustento da família dependia de um tio, mas com a crise de 1929 os negócios foram afetados e isso os fez passar necessidades. Quando Paulo estava com 10 anos, a família se mudou para Jaboatão, área pobre a 19 km da capital (Recife). “Fiz a escola primária no período mais duro da fome, de uma fome suficiente para atrapalhar o aprendizado”. Paulo Freire ficou órfão de pai aos treze anos. Sua educação inicial deu-se com o ingresso no Colégio Oswaldo Cruz, em Recife, por meio de bolsa concedida pelo diretor da escola. Ele conseguiu o primeiro emprego em 1941, como professor no Colégio Oswaldo Cruz, o mesmo onde lhe havia sido concedida bolsa para cursar o ginásio. Ingressou na Universidade de Recife em 1943, para cursar direito, mas, ao mesmo tempo, dedicou-se também aos estudos de filosofia da linguagem. Desistiu da profissão de advogado após pegar sua primeira causa, onde para defender seu cliente, deveria exigir o confisco do material de trabalho de um jovem dentista, pai de família. Preferiu trabalhar como professor numa escola de segundo grau, lecionando língua portuguesa.
Em 1944, uniu-se em matrimônio à colega de trabalho Elza Maia Costa de Oliveira, de quem sempre obteve apoio e participação durante o período que ficaram casados, até sua morte no ano de 1986. Dois anos depois, em 1988, o educador casou-se com a também pernambucana Ana Maria Araújo, apelidada de "Nita". Ambas as esposas foram reconhecidas por Paulo como importantes em sua carreira, inclusive quando o educador dedicou o título de Doutor Honoris Causa recebido da PUC de São Paulo "à memória de uma e à vida da outra".
Em 1946, Freire foi indicado ao cargo de diretor do Departamento de Educação e Cultura do Serviço Social no Estado de Pernambuco, onde iniciou o trabalho com analfabetos pobres. Em 1947, foi nomeado diretor do Departamento de Educação e Cultura do Serviço Social da Indústria (Sesi) e ali trabalhou até 1957, com a alfabetização de jovens e adultos carentes e com trabalhadores da indústria. Este período foi fundamental para a sua formação.
Desenvolveu projetos de emancipação popular com adultos e trabalhadores da periferia urbana. Tentou a cátedra de Filosofia da Educação da então Universidade do Recife, mas não foi feliz. Em 1959, Paulo Freire passou no processo seletivo para a cadeira de História e Filosofia da Educação, da Escola de Belas Artes da Universidade de Recife, hoje Universidade Federal de Pernambuco, com a tese original ´Educação e atualidade brasileira´. Ali, nasceram as bases do seu pensamento pedagógico e filosófico.
A sua prática didática consistia na crença de que o educando melhor assimilaria o objeto de estudo fazendo uso de uma prática dialética com a realidade, em contraposição a uma educação bancária, tecnicista e alienante, assim por ele denominada. Neste contexto, caberia ao aluno escolher qual caminho trilhar, e não aceitar algo previamente construído, libertando-se de chavões alienantes e escolhendo, ele mesmo, o rumo do seu aprendizado. Paulo Freire defendia o diálogo com as pessoas simples, não só como método, mas como um modo de ser realmente democrático.
Em 1961, tornou-se diretor do Departamento de Extensões Culturais, da Universidade de Recife, o que lhe possibilitou realizar experiências com alfabetização de adultos, as quais levariam à construção do “Método Paulo Freire”, adotado primeiramente em Pernambuco, e que se tornaria um método inovador de alfabetização. Com isso, surgiram algumas experiências pioneiras, entre elas, a de alfabetizar, no prazo de 40 horas, 360 trabalhadores rurais em Angicos, no Rio Grande do Norte.
Em resposta aos eficazes resultados, o governo brasileiro, por meio de seu Ministério da Educação e Cultura, implementou o Plano Nacional de Alfabetização. Coordenado por Paulo Freire, o Plano previa a formação de educadores em massa e a rápida implantação de 20 mil núcleos espalhados pelo País, com a estimativa de alfabetizar cinco milhões de adultos. Como o “Método Paulo Freire” não se propunha a apenas alfabetizar, mas também a politizar, os educandos eram levados a perceber as injustiças que os oprimiam e a necessidade de buscar mudanças, através de organizações próprias que os representassem, o que fez com que passassem a ser vistos como ameaças. Por isso, o Programa foi extinto pelo governo militar em abril de 1964, menos de 3 meses após ter sido oficializado.
Por ousar e colocar em prática uma metodologia capaz, não só de instrumentalizar a leitura e a escrita dos iletrados, ou dos alfabetizandos, como ele preferia chamar, mas também de incitar-lhes a libertação, Freire foi acusado de subverter a ordem constituída e considerado traidor, tendo sido encarcerado por 70 dias. Em seguida, passou por um breve exílio na Bolívia e, posteriormente, se estabeleceu no Chile, onde trabalhou por cinco anos para o Movimento de Reforma Agrária da Democracia Cristã e para a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação. Depois disso, exerceu o cargo de assessor do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e do Ministério da Educação do Chile, onde desenvolveu programas educativos para adultos.
Em 1967, durante o exílio chileno, Paulo Freire publicou, no Brasil, seu primeiro livro: Educação como Prática da Liberdade, baseado, fundamentalmente, na tese “Educação e Atualidade Brasileira”, com a qual concorreu em 1959, à cadeira de História e Filosofia da Educação na Escola de Belas Artes da Universidade do Recife. O livro foi bem recebido e Freire foi convidado a ser professor visitante da Universidade Harvard, em 1969. Depois de um ano em Cambridge, Freire mudou-se para Genebra, na Suíça, onde trabalhou como consultor educacional do Guiné-Bissau. Até o seu retorno ao Brasil, Freire fez viagens para mais de 30 países pelo CMI, prestando consultoria educacional e implementando projetos de educação voltados à alfabetização, à redução da desigualdade social e à garantia de direitos. Foi nesse período em que ele, um pensador brasileiro, implementou importantes projetos educativos em Guiné-Bissau, Moçambique, Zâmbia e Cabo Verde.
Depois de 16 anos de exílio, Paulo Freire voltou ao Brasil, em 1980. Lecionou em importantes universidades como: UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) e PUC/SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e foi, aos poucos, reconhecendo, reaprendendo e redescobrindo o país. De 1989 a 1991, assumiu a secretaria de Educação do Município de São Paulo. Seu mandato teve como premissa a recuperação salarial dos professores, a revisão curricular e, é claro, a implantação de programas de alfabetização de jovens e adultos. Dentre os destaques de sua passagem pela secretaria municipal de Educação, está a criação do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), um modelo de programa público que consiste no apoio a salas comunitárias de Educação de Jovens e Adultos e que até hoje é adotado por numerosas prefeituras e por outras instâncias de governo.
Pedagogia do oprimido, escrita no exílio no Chile e traduzida para mais de 50 idiomas, é a obra mais marcante do educador, na qual expõe a filosofia de ensino baseada na igualdade entre homens e mulheres e na educação para a libertação: “Quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação?”. Em abril de 1997, lançou seu último livro, "Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa", e em maio do mesmo ano, vítima de um infarto do miocárdio, Paulo Freire acabou falecendo. A Coleção Educador Paulo Freire, que pode ser visitada no Instituto Paulo Freire, na cidade de São Paulo, passou a integrar o Registo Internacional do Programa Memória do Mundo (MoW) em 2017.
Em vida e postumamente, o professor Paulo Freire foi condecorado com 48 títulos honoríficos. Em todo o mundo, cerca de 350 escolas e instituições, como bibliotecas e universidades, levam o seu nome como forma de homenagem. Em 2012, foi sancionado o projeto de Lei 12.612/12, que declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira. Ainda, segundo levantamento feito por um pesquisador da London School of Economics em 2016, a obra Pedagogia do Oprimido é o terceiro livro mais citado em trabalhos da área de humanidades no mundo. Até o ano desse levantamento, o livro de Freire já havia sido citado 72.359 vezes, estando à frente de pensadores como: Michel Foucault, Pierre Bourdieu e Karl Marx.
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