A seca durante o verão de 2014 na região Sudeste do Brasil

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Autor principal: Caio Augusto dos Santos Coelho
Formato: Online
Publicado em: 2015
Assuntos:
Acesso em linha:https://canalciencia.ibict.br/ciencia-em-sintese/artigo?item_id=26521
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abstract A pesquisa avaliou as condições climáticas da região Sudeste durante os dois últimos verões (2014 e 2015) e as compara com os dados obtidos em anos anteriores.
coverage A excepcionalidade da falta de chuva no verão de 2014, comparado aos verões desde 1962, foi comprovada pela pesquisa. O estado de São Paulo vem sofrendo com a falta de chuva desde o final da década de 90. Secas semelhantes foram observadas no passado, porém sem tanta falta de chuva. Um dos fatores que mais contribuiu para a falta de chuva no verão de 2014 foi o término antecipado da estação chuvosa devido à ausência de formação de eventos de Zona de Convergência do Atlântico Sul. A estação chuvosa se iniciou próximo à data típica conhecida para a região, início de novembro de 2013, mas terminou muito antes de janeiro de 2014, quando, tipicamente, deveria ter terminado no final de março ou início de abril. A persistência de condições de estiagem por longos períodos, como a observada sobre a região mais populosa do País desde o verão de 2014, afeta diretamente o abastecimento de água, assim como impacta a produção agrícola e a geração de energia hidroelétrica, que representa 70% das fontes de geração de energia no Brasil. A avaliação dos baixos índices pluviométricos no Sudeste do Estado de São Paulo, quando feita no contexto histórico, forneceu informações sobre a evolução das condições climáticas ao longo dos anos. Essa avaliação permite que os segmentos sociais impactados pela falta de chuva compreendam a atual condição climática adversa que a região vem experimentando e possam tomar medidas de adaptação. Da mesma forma, o estudo dos eventos climáticos que levaram ao estabelecimento das condições de seca sobre essa região durante o verão de 2014 fornece subsídios para que futuras condições climáticas adversas semelhantes possam ser previstas.
O Sudeste do Brasil sofreu uma das secas mais severas durante o verão de 2014, com importantes impactos na disponibilidade de água para o consumo humano, produção de energia hidroelétrica e produção agrícola. Uma das áreas mais afetadas foi o Sudeste do Estado de São Paulo, que inclui a região metropolitana da capital. Esse evento extremo de seca suscitou, em diversos setores da sociedade, questionamentos tais como quanto choveu ou deixou de chover na região, se condições climáticas anormais já tinham sido registradas antes, como vêm se comportando as chuvas na região nos últimos anos, quão severo e raro foi a seca observada no verão de 2014 e quando a estação chuvosa tem, tipicamente, seu início e fim no Sudeste do Estado de São Paulo Com objetivo de buscar respostas e compreender a escassez de chuva, pesquisadores do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), avaliaram as condições climáticas da região Sudeste durante os dois últimos verões (2014 e 2015) e as compararam com os dados obtidos em anos anteriores.
Os pesquisadores avaliaram dados climáticos históricos globais e da região, tais como índice pluviométrico, umidade, vento, pressão atmosférica, estimativa de nuvens e temperatura da superfície do mar. Com a ajuda de computadores, os dados foram processados e comparados, gerando imagens, mapas, diagramas e gráficos, os quais permitiram a proposição de mecanismos climáticos que expliquem a falta de chuva e a seca observada durante o verão de 2014, não só em São Paulo, mas em toda a região Sudeste do Brasil. A seca da região Sudeste teve origem nas condições climáticas anormais do norte da Austrália, as quais desencadearam uma sequência de eventos climáticos que atingiram a região tropical e extratropical do oceano Pacífico, afetando a região Sudeste e o oceano Atlântico adjacente. Um desses eventos subsequentes foi o aumento da pressão atmosférica sobre o oceano Atlântico, fazendo com que o ar seco, localizado nas camadas mais superiores da atmosfera, descesse para as camadas mais inferiores, impedindo a formação de nebulosidades e forçando o deslocamento das frentes de ar do sul do continente para o oceano. Esse evento favoreceu a manutenção de temperaturas mais altas no oceano, devido à incidência de radiação solar; o transporte da umidade da Amazônia foi desviado para o sul do Brasil, prejudicando a região Sudeste que tipicamente deveria receber essa umidade e desfavorecendo a formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, um dos principais mecanismos de produção de chuva sobre a região Sudeste do Brasil.
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Figura 1. Diagrama ilustrando a sequência de eventos iniciados a partir das nuvens ao norte da Austrália até atingir a região Sudeste do Brasil, onde condições de alta pressão atmosférica e falta de chuva foram estabelecidas ( -SST = temperatura da superfície do mar abaixo do normal; +SST = temperatura da superfície do mar acima do normal; -OLR = região com presença de nebulosidade profunda; +OLR = região com ausência de nebulosidade profunda). A falta ou excesso de chuva observados sobre o Brasil no primeiro trimestres de 2014 estão representados na Figura 2. Os valores foram calculados, fazendo-se a diferença entre o índice pluviométrico observado e o valor médio histórico registrado no período entre 1981 e 2010. A região Sudeste e partes das regiões Centro-Oeste e Sul aparecem destacadas pelo retângulo. Déficits de chuva superiores a 300 milímetros foram observados em partes dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, ilustrando a magnitude e extensão da seca registradas no verão de 2014.
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Figura 2. Mapa de déficits (vermelho) e excessos (azul) de chuva, em milímetros, observados no verão de 2014.
institution Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
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publishDateFull 2015-11-11
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A estação chuvosa se iniciou próximo à data típica conhecida para a região, início de novembro de 2013, mas terminou muito antes de janeiro de 2014, quando, tipicamente, deveria ter terminado no final de março ou início de abril. A persistência de condições de estiagem por longos períodos, como a observada sobre a região mais populosa do País desde o verão de 2014, afeta diretamente o abastecimento de água, assim como impacta a produção agrícola e a geração de energia hidroelétrica, que representa 70% das fontes de geração de energia no Brasil. A avaliação dos baixos índices pluviométricos no Sudeste do Estado de São Paulo, quando feita no contexto histórico, forneceu informações sobre a evolução das condições climáticas ao longo dos anos. Essa avaliação permite que os segmentos sociais impactados pela falta de chuva compreendam a atual condição climática adversa que a região vem experimentando e possam tomar medidas de adaptação. Da mesma forma, o estudo dos eventos climáticos que levaram ao estabelecimento das condições de seca sobre essa região durante o verão de 2014 fornece subsídios para que futuras condições climáticas adversas semelhantes possam ser previstas. O Sudeste do Brasil sofreu uma das secas mais severas durante o verão de 2014, com importantes impactos na disponibilidade de água para o consumo humano, produção de energia hidroelétrica e produção agrícola. Uma das áreas mais afetadas foi o Sudeste do Estado de São Paulo, que inclui a região metropolitana da capital. Esse evento extremo de seca suscitou, em diversos setores da sociedade, questionamentos tais como quanto choveu ou deixou de chover na região, se condições climáticas anormais já tinham sido registradas antes, como vêm se comportando as chuvas na região nos últimos anos, quão severo e raro foi a seca observada no verão de 2014 e quando a estação chuvosa tem, tipicamente, seu início e fim no Sudeste do Estado de São Paulo Com objetivo de buscar respostas e compreender a escassez de chuva, pesquisadores do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), avaliaram as condições climáticas da região Sudeste durante os dois últimos verões (2014 e 2015) e as compararam com os dados obtidos em anos anteriores. Os pesquisadores avaliaram dados climáticos históricos globais e da região, tais como índice pluviométrico, umidade, vento, pressão atmosférica, estimativa de nuvens e temperatura da superfície do mar. Com a ajuda de computadores, os dados foram processados e comparados, gerando imagens, mapas, diagramas e gráficos, os quais permitiram a proposição de mecanismos climáticos que expliquem a falta de chuva e a seca observada durante o verão de 2014, não só em São Paulo, mas em toda a região Sudeste do Brasil. A seca da região Sudeste teve origem nas condições climáticas anormais do norte da Austrália, as quais desencadearam uma sequência de eventos climáticos que atingiram a região tropical e extratropical do oceano Pacífico, afetando a região Sudeste e o oceano Atlântico adjacente. Um desses eventos subsequentes foi o aumento da pressão atmosférica sobre o oceano Atlântico, fazendo com que o ar seco, localizado nas camadas mais superiores da atmosfera, descesse para as camadas mais inferiores, impedindo a formação de nebulosidades e forçando o deslocamento das frentes de ar do sul do continente para o oceano. Esse evento favoreceu a manutenção de temperaturas mais altas no oceano, devido à incidência de radiação solar; o transporte da umidade da Amazônia foi desviado para o sul do Brasil, prejudicando a região Sudeste que tipicamente deveria receber essa umidade e desfavorecendo a formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, um dos principais mecanismos de produção de chuva sobre a região Sudeste do Brasil. imagem.jpg Figura 1. Diagrama ilustrando a sequência de eventos iniciados a partir das nuvens ao norte da Austrália até atingir a região Sudeste do Brasil, onde condições de alta pressão atmosférica e falta de chuva foram estabelecidas ( -SST = temperatura da superfície do mar abaixo do normal; +SST = temperatura da superfície do mar acima do normal; -OLR = região com presença de nebulosidade profunda; +OLR = região com ausência de nebulosidade profunda). A falta ou excesso de chuva observados sobre o Brasil no primeiro trimestres de 2014 estão representados na Figura 2. Os valores foram calculados, fazendo-se a diferença entre o índice pluviométrico observado e o valor médio histórico registrado no período entre 1981 e 2010. A região Sudeste e partes das regiões Centro-Oeste e Sul aparecem destacadas pelo retângulo. Déficits de chuva superiores a 300 milímetros foram observados em partes dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, ilustrando a magnitude e extensão da seca registradas no verão de 2014. imagem 2.png Figura 2. Mapa de déficits (vermelho) e excessos (azul) de chuva, em milímetros, observados no verão de 2014. Diagnóstico da chuva durante um evento excepcionalmente seco em São Paulo, Brasil, e A seca durante o verão de 2014 na região Sudeste do Brasil: mecanismos regionais e conexões remotas A pesquisa avaliou as condições climáticas da região Sudeste durante os dois últimos verões (2014 e 2015) e as compara com os dados obtidos em anos anteriores. 2015-11-11 Ciências Exatas e da Terra Os pesquisadores avaliaram dados climáticos históricos globais e da região, tais como índice pluviométrico, umidade, vento, pressão atmosférica, estimativa de nuvens e temperatura da superfície do mar. Com a ajuda de computadores, os dados foram processados e comparados, gerando imagens, mapas, diagramas e gráficos, os quais permitiram a proposição de mecanismos climáticos que expliquem a falta de chuva e a seca observada durante o verão de 2014, não só em São Paulo, mas em toda a região Sudeste do Brasil. A seca da região Sudeste teve origem nas condições climáticas anormais do norte da Austrália, as quais desencadearam uma sequência de eventos climáticos que atingiram a região tropical e extratropical do oceano Pacífico, afetando a região Sudeste e o oceano Atlântico adjacente. Um desses eventos subsequentes foi o aumento da pressão atmosférica sobre o oceano Atlântico, fazendo com que o ar seco, localizado nas camadas mais superiores da atmosfera, descesse para as camadas mais inferiores, impedindo a formação de nebulosidades e forçando o deslocamento das frentes de ar do sul do continente para o oceano. Esse evento favoreceu a manutenção de temperaturas mais altas no oceano, devido à incidência de radiação solar; o transporte da umidade da Amazônia foi desviado para o sul do Brasil, prejudicando a região Sudeste que tipicamente deveria receber essa umidade e desfavorecendo a formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, um dos principais mecanismos de produção de chuva sobre a região Sudeste do Brasil. imagem.jpg Figura 1. Diagrama ilustrando a sequência de eventos iniciados a partir das nuvens ao norte da Austrália até atingir a região Sudeste do Brasil, onde condições de alta pressão atmosférica e falta de chuva foram estabelecidas ( -SST = temperatura da superfície do mar abaixo do normal; +SST = temperatura da superfície do mar acima do normal; -OLR = região com presença de nebulosidade profunda; +OLR = região com ausência de nebulosidade profunda). A falta ou excesso de chuva observados sobre o Brasil no primeiro trimestres de 2014 estão representados na Figura 2. Os valores foram calculados, fazendo-se a diferença entre o índice pluviométrico observado e o valor médio histórico registrado no período entre 1981 e 2010. A região Sudeste e partes das regiões Centro-Oeste e Sul aparecem destacadas pelo retângulo. Déficits de chuva superiores a 300 milímetros foram observados em partes dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, ilustrando a magnitude e extensão da seca registradas no verão de 2014. imagem 2.png Figura 2. Mapa de déficits (vermelho) e excessos (azul) de chuva, em milímetros, observados no verão de 2014. https://repositorio.canalciencia.ibict.br/api/items/26521 https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/4627f6f96a8721204501572ff81347cabdd0919a.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/2bc62531288e45668cec5baa2faf57da85363476.png https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/039ea81b5c33a7fe66da8bc901915c38484a2d3c.jpg