Experimentos com cobaias avaliam a segurança alimentar dos alimentos transgênicos

Detalhes bibliográficos
Autor principal: Flavio Finardi Filho
Formato: Online
Publicado em: 2003
Assuntos:
Acesso em linha:https://canalciencia.ibict.br/ciencia-em-sintese/artigo?item_id=26447
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abstract Os pesquisadores avaliaram a segurança de alimentos GM através de ensaios nutricionais com ratos.
coverage As incertezas levantadas sobre a segurança dos OGM trouxeram também dúvidas sobre a garantia dos produtos convencionais. Incrementos de produtividade no campo não deveriam acarretar prejuízos nutricionais a animais e humanos, mas significar aumentos de confiança do consumidor. Para tanto é necessário seguir as recomendações de triagem dos alimentos GM estabelecida por decisões governamentais, através de uma árvore decisória que permite indicar quais produtos GM teriam estudos nutricionais e toxicológicos detalhados. A mesma metodologia pode ser seguida para orientar pesquisas de novas variedades GM, nas fases preliminares do desenvolvimento e antes dos testes agrícolas em campos experimentais. No caso desta pesquisa espera-se, prioritariamente, obter resultados que, em caso positivo, indiquem níveis de adequação dos produtos GM para a alimentação animal e humana ou, em caso negativo, que apontem limites e restrições ao uso indiscriminado, como os produtos de plantas convencionais.
A utilização de matérias primas agrícolas para alimentação humana e animal a partir de organismos geneticamente modificados (OGM), também conhecidos como transgênicos, é uma realidade em diversos países, como Estados Unidos, Canadá, Argentina, China e Japão. No nosso país essas plantas tem seu uso obstaculizado em função de medidas judiciais e debates políticos que questionam sua segurança em relação ao ambiente onde são cultivadas e à saúde de quem as ingere. Os riscos de segurança apontados para os produtos da manipulação genética no ambiente seriam principalmente dois: danos a insetos não praga, sobretudo os polinizadores (como as abelhas), e a possibilidade de ocorrer o chamado fluxo gênico (isto é, transmissão de características genéticas) entre as espécies cultivadas e seus parentes silvestres. Estudos de fluxo horizontal de genes estão em andamento para se evitar a geração de espécies híbridas, resistentes a pragas, herbicidas e outras propriedades das plantas modificadas. Alguns exemplos de pesquisa de transferências gênicas entre as espécies domésticas e silvestres podem ser encontrados nos casos do milho e do teosinte, do arroz Oriza sativa e O. spontanea, do morango Fragaria ananassa e F. virginiana. Outro risco potencial aparentemente menor é a geração de plantas comestíveis com componentes adversos, como inibidores enzimáticos, fatores antinutricionais e compostos alergênicos (isto é, causadores de alergias). Argumenta-se que a introdução de gene específico, por exemplo, que confere resistência a herbicidas químicos, não seria em si o causador dos riscos citados, porém a introdução aleatória no genoma da planta de um gene estranho poderia alterar vias do metabolismo secundário da planta, gerando outros componentes potencialmente adversos, seja pela quantidade, pela especificidade da molécula expressa, ou pelo acúmulo de subprodutos em teores distintos dos inicialmente presentes na parte comestível do vegetal. São alvos de investigações os genes que conferem resistência a antibióticos, os genes provenientes de organismos com histórico de alergenicidade e aqueles que levam a alterações do perfil de nutrientes. No entanto, são ainda escassos os trabalhos sobre os componentes resultantes das transformações genéticas. Cada planta GM (isto é, Geneticamente Modificada) destinada à alimentação requer, por medida espontânea de segurança ou por imposição de justiça, estudos de equivalência substancial, através da comparação com a variedade natural, e ensaios nutricionais e toxicológicos, quando o perfil de composição ou as características do organismo doador recomendarem procedimentos detalhados (conforme prevê a Instrução Normativa n. 20 - CTNBio, 2001). Além disso procede-se às análises de identificação de tipo e quantificação do produto GM, seguindo metodologia adequadas. Neste projeto, pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo pretendem avaliar a segurança de alimentos GM através de ensaios nutricionais com ratos. Para tanto serão elaboradas dietas contendo sementes ou outras partes das plantas, GM e convencionais, em nível equivalente ao do consumo humano e com teores elevados durante a fase de crescimento dos animais. Serão analisados os coeficientes de eficácia alimentar, a digestibilidade, os parâmetros bioquímicos do sangue, a integridade de vísceras e eventuais alterações histopatológicas nos órgãos dos animais (isto é, alterações no nível celular, como etapas preliminares de doenças). Estão previstos ainda testes imunoquímicos com soros de indivíduos alérgicos.
00172_1.jpg
No caso da soja serão usadas variedades de soja convencional e resistente ao glifosato (um herbicida) como experimentos preliminares. O material moído é cedido pela EMBRAPA Soja, do Paraná. A farinha de soja será desengordurada e submetida a tratamento térmico para inativação de fatores antinutricionais, normalmente presentes na soja. A farinha tratada será analisada para a avaliação de sua composição básica e incorporada em rações para ratos. Poderão também ser empregados extratos protéicos de soja. Estão previstos testes com a cana-de-açúcar GM, resistente à broca (praga que ataca a planta), contendo os inibidores de tripsina de soja. O material da cana-de-açúcar a ser utilizado nesses experimentos será o caldo de cana, pois é o produto ingerido de forma natural, sem processamento térmico. Testes irão medir a quantidade dos inibidores de tripsina, antes e após a elaboração da ração. As rações contendo os caldos de cana GM e convencional serão elaboradas conforme mencionado anteriormente. Os ratos. (Ratus novergicus, da linhagem Wistar) que servirão de cobaias são criados em biotério pelos pesquisadores. Os animais machos serão selecionados a partir do 18º dia de vida, para ter peso corporal entre 50 e 60 gramas. Os grupos controle (usados para a comparação) serão alimentados com a ração padrão, enquanto os grupos experimentais (alimentados com OGMs) de soja terão parte ou toda caseína (componente da ração padrão) substituída por soja convencional ou modificada e, da mesma maneira, o caldo de cana substituirá parte ou toda sacarose pelo extrato de cana convencional ou modificado. Os ratos serão submetidos a experimentos de 14 e de 28 dias com 6 animais em cada grupo experimental. Os animais serão confinados em gaiolas metabólicas individuais, com controle de temperatura estável a 23º graus centígrados e luminosidade artificial com ciclos de 12 horas de luz e 12 horas de escuridão. Serão realizados ensaios com 4 grupos de animais, estando previstos, por exemplo, dois grupos controle com caseína e soja convencional e dois grupos testes recebendo níveis diferentes de soja GM. Após cada ensaio os animais serão sacrificados e autopsiados, sendo seus órgãos avaliados por análises histológicas e o sangue analisado através de parâmetros bioquímicos. Os órgãos analisados serão fígado, intestino, estômago, pâncreas e rins através de análises macroscópicas de aspecto geral, de peso e dimensão destes órgãos. Na análise bioquímica do sangue serão verificadas enzimas do fígado, insulina, uréia e creatinina (produtos do metabolismo, que podem indicar o bom funcionamento renal). Também estão previstas análises das fezes e urina dos ratos de cada grupo experimental. Procedimentos semelhantes serão usados nos ensaios com caldo de cana, no quais pelo menos dois níveis de inibidores de tripsina estarão presentes nas rações: um conforme a expressão do gene inserido, estimada em 0,005% do teor de proteínas da cana; em outro experimento esta concentração será elevada em 10 vezes (os inibidores de tripsina são proteínas que impedem a digestão de outras proteínas pela ação da enzima tripsina, que por sua vez é produzida pelo pâncreas. Este inibidor está presente em diversas leguminosas, como o feijão e a soja. Quando o gene é transferido para plantas, o inibidor funciona como uma barreira para o desenvolvimento de insetos praga). Serão enfim realizados testes imunoquímicos com os extratos de soja e de cana-de-açúcar, com soros de indivíduos com histórico de alergia à soja. Através da aplicação de métodos estatísticos adequados poderão ser demonstradas diferenças de crescimento e ganho de peso dos animais, bem como a prevalência de alterações dos parâmetros bioquímicos e histológicos dos grupos ensaiados com alimento convencional e do grupo experimental recebendo níveis diferenciados de produto GM.
publishDate 2003
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A mesma metodologia pode ser seguida para orientar pesquisas de novas variedades GM, nas fases preliminares do desenvolvimento e antes dos testes agrícolas em campos experimentais. No caso desta pesquisa espera-se, prioritariamente, obter resultados que, em caso positivo, indiquem níveis de adequação dos produtos GM para a alimentação animal e humana ou, em caso negativo, que apontem limites e restrições ao uso indiscriminado, como os produtos de plantas convencionais. A utilização de matérias primas agrícolas para alimentação humana e animal a partir de organismos geneticamente modificados (OGM), também conhecidos como transgênicos, é uma realidade em diversos países, como Estados Unidos, Canadá, Argentina, China e Japão. No nosso país essas plantas tem seu uso obstaculizado em função de medidas judiciais e debates políticos que questionam sua segurança em relação ao ambiente onde são cultivadas e à saúde de quem as ingere. Os riscos de segurança apontados para os produtos da manipulação genética no ambiente seriam principalmente dois: danos a insetos não praga, sobretudo os polinizadores (como as abelhas), e a possibilidade de ocorrer o chamado fluxo gênico (isto é, transmissão de características genéticas) entre as espécies cultivadas e seus parentes silvestres. Estudos de fluxo horizontal de genes estão em andamento para se evitar a geração de espécies híbridas, resistentes a pragas, herbicidas e outras propriedades das plantas modificadas. Alguns exemplos de pesquisa de transferências gênicas entre as espécies domésticas e silvestres podem ser encontrados nos casos do milho e do teosinte, do arroz Oriza sativa e O. spontanea, do morango Fragaria ananassa e F. virginiana. Outro risco potencial aparentemente menor é a geração de plantas comestíveis com componentes adversos, como inibidores enzimáticos, fatores antinutricionais e compostos alergênicos (isto é, causadores de alergias). Argumenta-se que a introdução de gene específico, por exemplo, que confere resistência a herbicidas químicos, não seria em si o causador dos riscos citados, porém a introdução aleatória no genoma da planta de um gene estranho poderia alterar vias do metabolismo secundário da planta, gerando outros componentes potencialmente adversos, seja pela quantidade, pela especificidade da molécula expressa, ou pelo acúmulo de subprodutos em teores distintos dos inicialmente presentes na parte comestível do vegetal. São alvos de investigações os genes que conferem resistência a antibióticos, os genes provenientes de organismos com histórico de alergenicidade e aqueles que levam a alterações do perfil de nutrientes. No entanto, são ainda escassos os trabalhos sobre os componentes resultantes das transformações genéticas. Cada planta GM (isto é, Geneticamente Modificada) destinada à alimentação requer, por medida espontânea de segurança ou por imposição de justiça, estudos de equivalência substancial, através da comparação com a variedade natural, e ensaios nutricionais e toxicológicos, quando o perfil de composição ou as características do organismo doador recomendarem procedimentos detalhados (conforme prevê a Instrução Normativa n. 20 - CTNBio, 2001). Além disso procede-se às análises de identificação de tipo e quantificação do produto GM, seguindo metodologia adequadas. Neste projeto, pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo pretendem avaliar a segurança de alimentos GM através de ensaios nutricionais com ratos. Para tanto serão elaboradas dietas contendo sementes ou outras partes das plantas, GM e convencionais, em nível equivalente ao do consumo humano e com teores elevados durante a fase de crescimento dos animais. Serão analisados os coeficientes de eficácia alimentar, a digestibilidade, os parâmetros bioquímicos do sangue, a integridade de vísceras e eventuais alterações histopatológicas nos órgãos dos animais (isto é, alterações no nível celular, como etapas preliminares de doenças). Estão previstos ainda testes imunoquímicos com soros de indivíduos alérgicos. 00172_1.jpg No caso da soja serão usadas variedades de soja convencional e resistente ao glifosato (um herbicida) como experimentos preliminares. O material moído é cedido pela EMBRAPA Soja, do Paraná. A farinha de soja será desengordurada e submetida a tratamento térmico para inativação de fatores antinutricionais, normalmente presentes na soja. A farinha tratada será analisada para a avaliação de sua composição básica e incorporada em rações para ratos. Poderão também ser empregados extratos protéicos de soja. 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Após cada ensaio os animais serão sacrificados e autopsiados, sendo seus órgãos avaliados por análises histológicas e o sangue analisado através de parâmetros bioquímicos. Os órgãos analisados serão fígado, intestino, estômago, pâncreas e rins através de análises macroscópicas de aspecto geral, de peso e dimensão destes órgãos. Na análise bioquímica do sangue serão verificadas enzimas do fígado, insulina, uréia e creatinina (produtos do metabolismo, que podem indicar o bom funcionamento renal). Também estão previstas análises das fezes e urina dos ratos de cada grupo experimental. Procedimentos semelhantes serão usados nos ensaios com caldo de cana, no quais pelo menos dois níveis de inibidores de tripsina estarão presentes nas rações: um conforme a expressão do gene inserido, estimada em 0,005% do teor de proteínas da cana; em outro experimento esta concentração será elevada em 10 vezes (os inibidores de tripsina são proteínas que impedem a digestão de outras proteínas pela ação da enzima tripsina, que por sua vez é produzida pelo pâncreas. Este inibidor está presente em diversas leguminosas, como o feijão e a soja. Quando o gene é transferido para plantas, o inibidor funciona como uma barreira para o desenvolvimento de insetos praga). Serão enfim realizados testes imunoquímicos com os extratos de soja e de cana-de-açúcar, com soros de indivíduos com histórico de alergia à soja. 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Procedimentos semelhantes serão usados nos ensaios com caldo de cana, no quais pelo menos dois níveis de inibidores de tripsina estarão presentes nas rações: um conforme a expressão do gene inserido, estimada em 0,005% do teor de proteínas da cana; em outro experimento esta concentração será elevada em 10 vezes (os inibidores de tripsina são proteínas que impedem a digestão de outras proteínas pela ação da enzima tripsina, que por sua vez é produzida pelo pâncreas. Este inibidor está presente em diversas leguminosas, como o feijão e a soja. Quando o gene é transferido para plantas, o inibidor funciona como uma barreira para o desenvolvimento de insetos praga). Serão enfim realizados testes imunoquímicos com os extratos de soja e de cana-de-açúcar, com soros de indivíduos com histórico de alergia à soja. 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