Uacari-branco, o mais misterioso macaco da Amazônia

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Autor principal: José Márcio Correa Ayres
Formato: Online
Publicado em: 2002
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Acesso em linha:https://canalciencia.ibict.br/ciencia-em-sintese/artigo?item_id=25612
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abstract O biólogo e naturalista José Márcio Correa Ayres (in memoriam) encontrou uma espécie de primata dada como extinta: o uacari-branco.
coverage A relevância da pesquisa está no estudo de uma espécie de macaco pouco conhecida, até mesmo entre os habitantes da região oeste da Amazônia, pois habita florestas inundadas de difícil acesso. Esse fato, talvez, justifique o porquê de, embora descoberto há mais de 150 anos, tal primata ter sido muito pouco observado. A pesquisa é portanto única. Além disso, monitoramento de suas populações é de grande importância para detectar o impacto de mudanças ambientais em florestas alagadas, visto sua dependência ao ambiente de várzea.
Pesquisa conduzida pelo biólogo e naturalista José Márcio Correa Ayres (in memoriam), do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), uma das unidades de pesquisa científica do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), encontrou uma espécie de primata dada como extinta: o uacari-branco.
Os uacaris-brancos (Cacajao calvus calvus), considerados dos menos conhecidos macacos da Amazônia, foram descritos pela primeira vez em 1847 pelo zoólogo francês Isidore Geoffroy Saint-Hilaire e citados em poucas outras observações pelo naturalista inglês Henry Walter Bates, na década de 1850, na região de Tefé (Amazonas).
Essa espécie pertence a um grupo denominado Cacajao calvus, conhecido popularmente como uacaris de cara vermelha, por associação ao rubor facial. Neste grupo são reconhecidas mais três subespécies: Cacajao calvus rubicundus, Cacajao calvus novaesi e Cacajao calvus ucayalii. Existem também os uacaris-pretos (Cacajao melanocephalus), do qual fazem parte duas subespécies: Cacajao melanocephalus melanocephalus e Cacajao melanocephalus ouakary.
Em 2008, uma nova espécie de uacari-preto foi descoberta, denominada de Cacajao ayresi em homenagem ao pesquisador José Márcio Ayres. Todos as formas de uacaris citadas acima são exclusivas do oeste da Amazônia.
O primata possui diversos nomes populares como uacaris, acaris e macaco inglês para o grupo Cacajao calvus, e uacari-preto e bicó para o grupo Cacajao melanocephalus. Dentre esses sete tipos de uacaris, o único estudado por mais tempo foi o uacari-branco, que habita a maior parte da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
Os uacaris de cara vermelha ocorrem em florestas inundadas dos rios de água barrenta de origem andina, os chamados "rios de água branca", enquanto os uacaris-pretos vivem, principalmente, nas matas inundadas de rios de água escura, originários da própria bacia amazônica.
Pouquíssimos macacos chamam tanto a atenção quanto os uacaris- brancos. Existem diversas hipóteses para as suas caudas curtas e faces vermelhas, porém, ainda não há uma explicação definitiva para essas diferenciadas características. Além disso, estes macacos são os únicos que vivem exclusivamente em florestas inundadas da Região Amazônica.
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A pesquisa busca descrever os hábitos dos animais, o comportamento gregário e o habitat desses primatas exclusivos da Amazônia brasileira. As observações de campo puderam ser feitas na RDS Mamirauá, pois, a rigor, apenas nos seus 11 mil quilômetros quadrados, inteiramente cobertos de floresta inundada, lagos e igarapés, que o uacari-branco ocorre com mais propriedade. O fato mais marcante na área de distribuição geográfica da espécie é a variação do nível da água ao longo do ano, que chega a 12 metros de altura. O habitat muda completamente do pico da cheia entre abril e junho para a seca de setembro a novembro.
Os uacaris-brancos vivem em bandos de até 50 indivíduos e passam a maior parte do dia se alimentando ou viajando em busca de alimentos. Acordam ao alvorecer e chegam a viajar 5 quilômetros num só dia. Sua dieta consiste de frutos usualmente imaturos e de casca muito dura, da mesma família da castanha-do-pará, de onde retiram sementes muito ricas em proteínas e energia. Esses frutos geralmente são desprezados por outros macacos. Na seca, quando os frutos escasseiam, comem insetos, brotos e néctar. Vivem nos topos das árvores, e raramente descem ao chão. Ao fim do dia, o bando se acomoda em galhos muito altos e sem folhas, como proteção contra predadores, e ocupa três ou quatro árvores para dormir tão logo o Sol se põe.
A gestação dessa espécie de primata dura quase seis meses, os filhotes em geral nascem no fim do ano, época mais seca, e dependem da mãe até o ano seguinte, quando fazem as primeiras incursões a sós, no entanto, sem se afastarem muito. Os indivíduos adultos medem de 50 a 60 centímetros de comprimento e os machos chegam a pesar pouco mais que 4 quilos. Os bandos são grandes e, durante a procura de alimentação, se dividem em subgrupos, pois nem sempre as árvores de que se alimentam comportam a todos.
A caça não consiste fator de risco para a sobrevivência da espécie, porque a semelhança entre o uacari-branco com os seres humanos possibilita sua proteção de caçadores. Por outro lado, macacos como os guaribas, coatás e macacos-pregos são muito usados na alimentação amazônica. Os riscos de extinção vêm da destruição ambiental. O desmatamento e a extração seletiva da floresta constituem as piores ameaças, pois o uacari-branco é um dos mais vulneráveis primatas da Amazônia. A criação da Reserva de Mamirauá, em 1990, é a principal ação para sua preservação e defesa.
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publishDateFull 2002-12-09
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Pesquisa conduzida pelo biólogo e naturalista José Márcio Correa Ayres (in memoriam), do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), uma das unidades de pesquisa científica do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), encontrou uma espécie de primata dada como extinta: o uacari-branco. Os uacaris-brancos (Cacajao calvus calvus), considerados dos menos conhecidos macacos da Amazônia, foram descritos pela primeira vez em 1847 pelo zoólogo francês Isidore Geoffroy Saint-Hilaire e citados em poucas outras observações pelo naturalista inglês Henry Walter Bates, na década de 1850, na região de Tefé (Amazonas). Essa espécie pertence a um grupo denominado Cacajao calvus, conhecido popularmente como uacaris de cara vermelha, por associação ao rubor facial. Neste grupo são reconhecidas mais três subespécies: Cacajao calvus rubicundus, Cacajao calvus novaesi e Cacajao calvus ucayalii. Existem também os uacaris-pretos (Cacajao melanocephalus), do qual fazem parte duas subespécies: Cacajao melanocephalus melanocephalus e Cacajao melanocephalus ouakary. Em 2008, uma nova espécie de uacari-preto foi descoberta, denominada de Cacajao ayresi em homenagem ao pesquisador José Márcio Ayres. Todos as formas de uacaris citadas acima são exclusivas do oeste da Amazônia. O primata possui diversos nomes populares como uacaris, acaris e macaco inglês para o grupo Cacajao calvus, e uacari-preto e bicó para o grupo Cacajao melanocephalus. Dentre esses sete tipos de uacaris, o único estudado por mais tempo foi o uacari-branco, que habita a maior parte da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Os uacaris de cara vermelha ocorrem em florestas inundadas dos rios de água barrenta de origem andina, os chamados "rios de água branca", enquanto os uacaris-pretos vivem, principalmente, nas matas inundadas de rios de água escura, originários da própria bacia amazônica. Pouquíssimos macacos chamam tanto a atenção quanto os uacaris- brancos. Existem diversas hipóteses para as suas caudas curtas e faces vermelhas, porém, ainda não há uma explicação definitiva para essas diferenciadas características. Além disso, estes macacos são os únicos que vivem exclusivamente em florestas inundadas da Região Amazônica. 00054_1.jpg 00054_2.jpg 00054_3.jpg 00054_4.jpg 00054_5.jpg 00054_6.jpg A pesquisa busca descrever os hábitos dos animais, o comportamento gregário e o habitat desses primatas exclusivos da Amazônia brasileira. As observações de campo puderam ser feitas na RDS Mamirauá, pois, a rigor, apenas nos seus 11 mil quilômetros quadrados, inteiramente cobertos de floresta inundada, lagos e igarapés, que o uacari-branco ocorre com mais propriedade. O fato mais marcante na área de distribuição geográfica da espécie é a variação do nível da água ao longo do ano, que chega a 12 metros de altura. O habitat muda completamente do pico da cheia entre abril e junho para a seca de setembro a novembro. Os uacaris-brancos vivem em bandos de até 50 indivíduos e passam a maior parte do dia se alimentando ou viajando em busca de alimentos. Acordam ao alvorecer e chegam a viajar 5 quilômetros num só dia. Sua dieta consiste de frutos usualmente imaturos e de casca muito dura, da mesma família da castanha-do-pará, de onde retiram sementes muito ricas em proteínas e energia. Esses frutos geralmente são desprezados por outros macacos. Na seca, quando os frutos escasseiam, comem insetos, brotos e néctar. Vivem nos topos das árvores, e raramente descem ao chão. Ao fim do dia, o bando se acomoda em galhos muito altos e sem folhas, como proteção contra predadores, e ocupa três ou quatro árvores para dormir tão logo o Sol se põe. A gestação dessa espécie de primata dura quase seis meses, os filhotes em geral nascem no fim do ano, época mais seca, e dependem da mãe até o ano seguinte, quando fazem as primeiras incursões a sós, no entanto, sem se afastarem muito. Os indivíduos adultos medem de 50 a 60 centímetros de comprimento e os machos chegam a pesar pouco mais que 4 quilos. Os bandos são grandes e, durante a procura de alimentação, se dividem em subgrupos, pois nem sempre as árvores de que se alimentam comportam a todos. A caça não consiste fator de risco para a sobrevivência da espécie, porque a semelhança entre o uacari-branco com os seres humanos possibilita sua proteção de caçadores. Por outro lado, macacos como os guaribas, coatás e macacos-pregos são muito usados na alimentação amazônica. Os riscos de extinção vêm da destruição ambiental. O desmatamento e a extração seletiva da floresta constituem as piores ameaças, pois o uacari-branco é um dos mais vulneráveis primatas da Amazônia. A criação da Reserva de Mamirauá, em 1990, é a principal ação para sua preservação e defesa. Biologia e ecologia comportamental dos uacaris-brancos nas matas de várzea de Mamirauá O biólogo e naturalista José Márcio Correa Ayres (in memoriam) encontrou uma espécie de primata dada como extinta: o uacari-branco. 2002-12-09 Ciências Biológicas A pesquisa busca descrever os hábitos dos animais, o comportamento gregário e o habitat desses primatas exclusivos da Amazônia brasileira. As observações de campo puderam ser feitas na RDS Mamirauá, pois, a rigor, apenas nos seus 11 mil quilômetros quadrados, inteiramente cobertos de floresta inundada, lagos e igarapés, que o uacari-branco ocorre com mais propriedade. O fato mais marcante na área de distribuição geográfica da espécie é a variação do nível da água ao longo do ano, que chega a 12 metros de altura. O habitat muda completamente do pico da cheia entre abril e junho para a seca de setembro a novembro. Os uacaris-brancos vivem em bandos de até 50 indivíduos e passam a maior parte do dia se alimentando ou viajando em busca de alimentos. Acordam ao alvorecer e chegam a viajar 5 quilômetros num só dia. Sua dieta consiste de frutos usualmente imaturos e de casca muito dura, da mesma família da castanha-do-pará, de onde retiram sementes muito ricas em proteínas e energia. Esses frutos geralmente são desprezados por outros macacos. Na seca, quando os frutos escasseiam, comem insetos, brotos e néctar. Vivem nos topos das árvores, e raramente descem ao chão. Ao fim do dia, o bando se acomoda em galhos muito altos e sem folhas, como proteção contra predadores, e ocupa três ou quatro árvores para dormir tão logo o Sol se põe. A gestação dessa espécie de primata dura quase seis meses, os filhotes em geral nascem no fim do ano, época mais seca, e dependem da mãe até o ano seguinte, quando fazem as primeiras incursões a sós, no entanto, sem se afastarem muito. Os indivíduos adultos medem de 50 a 60 centímetros de comprimento e os machos chegam a pesar pouco mais que 4 quilos. Os bandos são grandes e, durante a procura de alimentação, se dividem em subgrupos, pois nem sempre as árvores de que se alimentam comportam a todos. A caça não consiste fator de risco para a sobrevivência da espécie, porque a semelhança entre o uacari-branco com os seres humanos possibilita sua proteção de caçadores. Por outro lado, macacos como os guaribas, coatás e macacos-pregos são muito usados na alimentação amazônica. Os riscos de extinção vêm da destruição ambiental. O desmatamento e a extração seletiva da floresta constituem as piores ameaças, pois o uacari-branco é um dos mais vulneráveis primatas da Amazônia. A criação da Reserva de Mamirauá, em 1990, é a principal ação para sua preservação e defesa. https://repositorio.canalciencia.ibict.br/api/items/25612 https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/2e48d01afe6e605fc74c80c27bf212aad1be1e9b.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/6e12843ebda47ea8008245b42aa040a8b29673ae.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/5dce457c9fd92bf48fc4baba10dc053e12d1bd4d.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/f71f2510c0c744bb6264a4e3bf3c9fd69cb50837.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/eae8e01d507039e42fbcfa8f7074fb8f3ebec328.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/5d2fb737adb9cb1cbd39abd4b83265fce2db972a.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/020cd59102337652f7ecec17a6243de98ae9c1ee.jpg