Nova teoria da pré-história amazônica valoriza culturas ancestrais
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2002
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O estudo apresenta a visão arqueológica que adota o conceito de “gênese” das sociedades humanas, cujas interações com seu meio geram diferentes culturas que evoluem dentro de seus próprios parâmetros. |
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As sociedades amazônicas pré-históricas, com muitos milhares de anos de sucesso em sua integração eco-social na floresta, deixaram inúmeros vestígios materiais. Entretanto, a sociedade brasileira atual, ainda não consegue valorizar suas soluções, e tal como desvaloriza os descendentes atuais daquelas sociedades – os indígenas – despreza suas relíquias. Isso porque ainda vê esses descendentes e esses vestígios como parte de um passado morto, e não como integrantes da futura Civilização Brasileira, ora em gestação, que pode se valer da originalidade das soluções sociais e geopolíticas já testadas na floresta tropical. Daí o peso de uma visão que re-valoriza o passado como ferramenta de construção do presente. Para isso a teoria defende a necessidade não apenas da preservação rigorosa dos vestígios arqueológicos, como de projetos sérios de divulgação científica, de alterações no Ensino Fundamental que levem estes saberes aos alunos do ensino médio e fundamental e que os tornem básicos nos Cursos Superiores de Ciências Humanas, e a regulamentação da profissão de arqueólogo. Essa nova visão arqueológica adota o conceito de “gênese” das sociedades humanas, definindo-a como um acontecimento de longa duração, no qual a experiência prática e sensível gera diferentes culturas que evoluem dentro de seus próprios parâmetros. Assim, as transformações materiais, culturais e políticas das primeiras sociedades amazônicas, antes da conquista européia, só podem ter sido o resultado da reconstrução incessante de suas experiências precedentes. A evolução, nesta teoria, é explicada pelos estágios anteriores da organização social nativa. Isso é um ponto de vista diferente do das generalizações que, tomando de empréstimo as categorias de teorias antropo-evolucionistas, surgidas na Europa já no século XIX, querem “aplicar” esses mesmos esquemas à evolução das sociedades amazônicas. A particularidade do desenvolvimento dessas sociedades é o que essa teoria chama de “gênese”, um acontecimento de longa duração, que se contrapõe à hipótese de datas ou períodos fixos, “iniciais”. Só que mesmo antes de se dar conta das implicações das novas teorias sobre a pré-história da Amazônia para os nossos dias, torna-se necessário que a sociedade brasileira salve o patrimônio arqueológico, ou seja, os vestígios materiais dessas sociedades, ameaçados pela urbanização e por projetos desenvolvimentistas. 00006_1.jpg 00006_2.jpg 00006_3.jpg 00006_4.jpg As interpretações clássicas da evolução das sociedades pré-históricas usam teorias que tomam, como base, ou o parâmetro cronológico, ou o cultural, e às vezes ambos. Essas teorias, entretanto, seriam artifícios, ou seja, não teriam relação verdadeira com os fatos efetivamente ocorridos no passado. A não preservação do patrimônio arqueológico se relaciona com a adoção dessas teorias artificiais. De fato, se o conhecimento do passado é apenas formal, sem implicações para o presente, então não é necessário ir além do artifício. Mas a questão essencial é saber qual a importância que as culturas indígenas existentes na floresta tropical antes da conquista européia tem para o Brasil de nossos dias. Por exemplo: existe apreço (e ensino) sobre as Culturas Clássica e Medieval Ocidentais e, em função disso, são feitos muitos esforços de preservação de edifícios e vestígios que reportam-se a essas culturas. Já o cuidado com urnas funerárias marajoaras parece baseado mais em interesses comerciais, pelo valor que podem ter no mercado negro de objetos arqueológicos, ou por um nacionalismo de antiquário. Para valorizar nosso passado é que surge a idéia de gênese, que não é um processo evolucionista, retilíneo, mas constante reconstrução. Assim, a divisão tradicional da evolução da pré-história amazônica em quatro épocas - paleoíndia, arcaica, formativa e complexa – é rejeitada como inadequada, artificial, e exógena. O paleoíndio, por exemplo, que é categoria que se adequa aos ancestrais dos indígenas norte-americanos, enquanto caçadores especializados num clima frio e seco, na era final das glaciações (circa 12 mil anos atrás), não é funcional ao se abordar a proto-colonização das florestas quentes e úmidas pelas populações de características mongólicas, ancestrais de nossos índios. Da mesma forma, a adoção de teorias que se fundamentam em diferenças da cultura material apresenta contradições, já que até mesmo a cerâmica, que supostamente deveria caracterizar somente o período arcaico, apresenta datações cada vez mais recuadas (como um fragmento achado na serra da Capivara, datado em 8900 anos). Isso se deve ao fato que estas teorias classificam os vestígios conforme os modelos que pré-adotaram. A nova hipótese da gênese das sociedades amazônicas, porém , parte do pressuposto que a integração à floresta tropical foi o acontecimento de longa duração significante na evolução das sociedades amazônicas pré-históricas. Nessa visão, muito que antes foi separado pode ser unificado. Na floresta se teriam criado, ao longo de um extenso período, práticas e costumes englobados pela nova teoria na definição de Cultura Tropical, em que, já superada a fase de mera satisfação das necessidades, as sociedades amazônicas teriam obtido um sucesso notável na adaptação humana à floresta úmida. O homem teria passado a co-evoluir com essa floresta. Da reconstrução da Cultura Tropical teria surgido, então, a gênese da Cultura Neotropical em que as sociedades, já conhecedoras dos recursos e limites do ambiente, teriam florescido em interações geopolíticas, sociais e étnicas que se destacam pela originalidade, inventividade e êxito, e cuja evolução só seria detida pela ruptura da conquista européia. |
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Daí o peso de uma visão que re-valoriza o passado como ferramenta de construção do presente. Para isso a teoria defende a necessidade não apenas da preservação rigorosa dos vestígios arqueológicos, como de projetos sérios de divulgação científica, de alterações no Ensino Fundamental que levem estes saberes aos alunos do ensino médio e fundamental e que os tornem básicos nos Cursos Superiores de Ciências Humanas, e a regulamentação da profissão de arqueólogo. Essa nova visão arqueológica adota o conceito de “gênese” das sociedades humanas, definindo-a como um acontecimento de longa duração, no qual a experiência prática e sensível gera diferentes culturas que evoluem dentro de seus próprios parâmetros. Assim, as transformações materiais, culturais e políticas das primeiras sociedades amazônicas, antes da conquista européia, só podem ter sido o resultado da reconstrução incessante de suas experiências precedentes. A evolução, nesta teoria, é explicada pelos estágios anteriores da organização social nativa. Isso é um ponto de vista diferente do das generalizações que, tomando de empréstimo as categorias de teorias antropo-evolucionistas, surgidas na Europa já no século XIX, querem “aplicar” esses mesmos esquemas à evolução das sociedades amazônicas. A particularidade do desenvolvimento dessas sociedades é o que essa teoria chama de “gênese”, um acontecimento de longa duração, que se contrapõe à hipótese de datas ou períodos fixos, “iniciais”. Só que mesmo antes de se dar conta das implicações das novas teorias sobre a pré-história da Amazônia para os nossos dias, torna-se necessário que a sociedade brasileira salve o patrimônio arqueológico, ou seja, os vestígios materiais dessas sociedades, ameaçados pela urbanização e por projetos desenvolvimentistas. 00006_1.jpg 00006_2.jpg 00006_3.jpg 00006_4.jpg As interpretações clássicas da evolução das sociedades pré-históricas usam teorias que tomam, como base, ou o parâmetro cronológico, ou o cultural, e às vezes ambos. Essas teorias, entretanto, seriam artifícios, ou seja, não teriam relação verdadeira com os fatos efetivamente ocorridos no passado. A não preservação do patrimônio arqueológico se relaciona com a adoção dessas teorias artificiais. De fato, se o conhecimento do passado é apenas formal, sem implicações para o presente, então não é necessário ir além do artifício. Mas a questão essencial é saber qual a importância que as culturas indígenas existentes na floresta tropical antes da conquista européia tem para o Brasil de nossos dias. Por exemplo: existe apreço (e ensino) sobre as Culturas Clássica e Medieval Ocidentais e, em função disso, são feitos muitos esforços de preservação de edifícios e vestígios que reportam-se a essas culturas. Já o cuidado com urnas funerárias marajoaras parece baseado mais em interesses comerciais, pelo valor que podem ter no mercado negro de objetos arqueológicos, ou por um nacionalismo de antiquário. Para valorizar nosso passado é que surge a idéia de gênese, que não é um processo evolucionista, retilíneo, mas constante reconstrução. Assim, a divisão tradicional da evolução da pré-história amazônica em quatro épocas - paleoíndia, arcaica, formativa e complexa – é rejeitada como inadequada, artificial, e exógena. O paleoíndio, por exemplo, que é categoria que se adequa aos ancestrais dos indígenas norte-americanos, enquanto caçadores especializados num clima frio e seco, na era final das glaciações (circa 12 mil anos atrás), não é funcional ao se abordar a proto-colonização das florestas quentes e úmidas pelas populações de características mongólicas, ancestrais de nossos índios. Da mesma forma, a adoção de teorias que se fundamentam em diferenças da cultura material apresenta contradições, já que até mesmo a cerâmica, que supostamente deveria caracterizar somente o período arcaico, apresenta datações cada vez mais recuadas (como um fragmento achado na serra da Capivara, datado em 8900 anos). Isso se deve ao fato que estas teorias classificam os vestígios conforme os modelos que pré-adotaram. A nova hipótese da gênese das sociedades amazônicas, porém , parte do pressuposto que a integração à floresta tropical foi o acontecimento de longa duração significante na evolução das sociedades amazônicas pré-históricas. Nessa visão, muito que antes foi separado pode ser unificado. Na floresta se teriam criado, ao longo de um extenso período, práticas e costumes englobados pela nova teoria na definição de Cultura Tropical, em que, já superada a fase de mera satisfação das necessidades, as sociedades amazônicas teriam obtido um sucesso notável na adaptação humana à floresta úmida. O homem teria passado a co-evoluir com essa floresta. Da reconstrução da Cultura Tropical teria surgido, então, a gênese da Cultura Neotropical em que as sociedades, já conhecedoras dos recursos e limites do ambiente, teriam florescido em interações geopolíticas, sociais e étnicas que se destacam pela originalidade, inventividade e êxito, e cuja evolução só seria detida pela ruptura da conquista européia. A Gênese das Sociedades Amazônicas e a Preservação do Patrimônio Arqueológico O estudo apresenta a visão arqueológica que adota o conceito de “gênese” das sociedades humanas, cujas interações com seu meio geram diferentes culturas que evoluem dentro de seus próprios parâmetros. 2002-12-01 Ciências Humanas As interpretações clássicas da evolução das sociedades pré-históricas usam teorias que tomam, como base, ou o parâmetro cronológico, ou o cultural, e às vezes ambos. Essas teorias, entretanto, seriam artifícios, ou seja, não teriam relação verdadeira com os fatos efetivamente ocorridos no passado. A não preservação do patrimônio arqueológico se relaciona com a adoção dessas teorias artificiais. De fato, se o conhecimento do passado é apenas formal, sem implicações para o presente, então não é necessário ir além do artifício. Mas a questão essencial é saber qual a importância que as culturas indígenas existentes na floresta tropical antes da conquista européia tem para o Brasil de nossos dias. Por exemplo: existe apreço (e ensino) sobre as Culturas Clássica e Medieval Ocidentais e, em função disso, são feitos muitos esforços de preservação de edifícios e vestígios que reportam-se a essas culturas. Já o cuidado com urnas funerárias marajoaras parece baseado mais em interesses comerciais, pelo valor que podem ter no mercado negro de objetos arqueológicos, ou por um nacionalismo de antiquário. Para valorizar nosso passado é que surge a idéia de gênese, que não é um processo evolucionista, retilíneo, mas constante reconstrução. Assim, a divisão tradicional da evolução da pré-história amazônica em quatro épocas - paleoíndia, arcaica, formativa e complexa – é rejeitada como inadequada, artificial, e exógena. O paleoíndio, por exemplo, que é categoria que se adequa aos ancestrais dos indígenas norte-americanos, enquanto caçadores especializados num clima frio e seco, na era final das glaciações (circa 12 mil anos atrás), não é funcional ao se abordar a proto-colonização das florestas quentes e úmidas pelas populações de características mongólicas, ancestrais de nossos índios. Da mesma forma, a adoção de teorias que se fundamentam em diferenças da cultura material apresenta contradições, já que até mesmo a cerâmica, que supostamente deveria caracterizar somente o período arcaico, apresenta datações cada vez mais recuadas (como um fragmento achado na serra da Capivara, datado em 8900 anos). Isso se deve ao fato que estas teorias classificam os vestígios conforme os modelos que pré-adotaram. A nova hipótese da gênese das sociedades amazônicas, porém , parte do pressuposto que a integração à floresta tropical foi o acontecimento de longa duração significante na evolução das sociedades amazônicas pré-históricas. Nessa visão, muito que antes foi separado pode ser unificado. Na floresta se teriam criado, ao longo de um extenso período, práticas e costumes englobados pela nova teoria na definição de Cultura Tropical, em que, já superada a fase de mera satisfação das necessidades, as sociedades amazônicas teriam obtido um sucesso notável na adaptação humana à floresta úmida. O homem teria passado a co-evoluir com essa floresta. Da reconstrução da Cultura Tropical teria surgido, então, a gênese da Cultura Neotropical em que as sociedades, já conhecedoras dos recursos e limites do ambiente, teriam florescido em interações geopolíticas, sociais e étnicas que se destacam pela originalidade, inventividade e êxito, e cuja evolução só seria detida pela ruptura da conquista européia. https://repositorio.canalciencia.ibict.br/api/items/25586 https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/8ed879e4077d332ca8e89f9fadd2447475dbe92f.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/ab69f441226bd56b33314882876cbd20c2f1c822.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/c52fe90ba89dfbbcb59b8dc08ec9083144d953ff.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/4e5d34e8eff2fd3a679aa2f0a60aa0045cea6848.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/e154dc416da0d779027e55b7b6290ed0c26f9b0b.jpg |