Uso do metrô e a sustentabilidade: investindo na qualidade de vida das cidades

Detalhes bibliográficos
Principais autores: Simone El Khouri Miraglia, Cacilda Bastos Pereira da Silva
Formato: Online
Publicado em: 2015
Assuntos:
Acesso em linha:https://canalciencia.ibict.br/ciencia-em-sintese/artigo?item_id=25499
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abstract O estudo analisou os impactos ambientais desse fenômeno e estimar os benefícios do metrô para a saúde pública e para o bem estar da população da cidade de São Paulo.
coverage A pesquisa mostrou que a ausência do serviço de transporte de metrô provoca aumento das emissões de poluentes com o aumento de viagens realizadas por outros modos, em decorrência da transferência da demanda de usuários de metrô e nas condições de circulação dos veículos nas vias. As viagens transferidas e as afetadas pelas paralisações, sobretudo ônibus e automóvel, geram maior lentidão na velocidade no trânsito, acréscimo de quilometragem rodada e de consumo de combustível e, portanto, aumento das emissões de poluentes.
Além disso, nos dias mais poluídos em que se analisou os efeitos da paralisação da operação de metrô, a pesquisa mostrou um aumento de cerca de 10% na mortalidade de idosos devido a doenças cardiovasculares e respiratórias, como pode ser observado na Tabela 2. A poluição do ar tem efeitos danosos nos aparelhos respiratório e circulatório, podendo ocasionar o aparecimento de tumores nos pulmões. A exposição ao ar muito poluído pode, ainda, levar ao nascimento de bebês com baixo peso e com outras anomalias. A expectativa de vida dos moradores da cidade de São Paulo também é prejudicada com a exposição à poluição do ar.
Os resultados da pesquisa reforçam que a poluição do ar na cidade de São Paulo seria muito pior se não existisse o metrô. Sem esse meio de transporte coletivo, a quantidade de veículos em circulação aumentaria, com efeito direto sobre a saúde da população. Os benefícios do metrô para a saúde pública, valorados com base na mortalidade evitada de idosos, representam uma economia anual de cerca de R$ 11 bilhões ao ano que deixam de ser pagos pela sociedade e pelos governos, ao investir em sistemas de transporte para os deslocamentos urbanos, como o metrô, para a sustentabilidade nas cidades e para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
A qualidade de vida nas grandes cidades pode estar comprometida pela perspectiva de aumento da população nas próximas décadas. Quanto mais pessoas morando nas cidades, maior é a necessidade de se usar os recursos naturais (energia, água, matérias primas), e mais alto é o uso de bens de consumo que geram poluição, como os automóveis. Uma alternativa para reduzir os impactos da poluição atmosférica, bem como facilitar a organização dos deslocamentos nas grandes cidades, é o uso dos transportes coletivos pela população.
Metrô, trens e ônibus urbanos são uma alternativa para os deslocamentos nas cidades. O uso do transporte coletivo contribui para a diminuição de veículos trafegando nas ruas e avenidas, sujeitas a constantes congestionamentos e consequentemente ao aumento das emissões de gases poluentes na atmosfera. Na cidade de São Paulo, por exemplo, o transporte coletivo atende ao deslocamento de 10 milhões de passageiros por dia. Entretanto, sabe-se que nas grandes cidades a expansão dos sistemas de transporte urbano, como o de metrô, não tem acompanhado a necessidade da população. Nas últimas décadas, percebe-se que o número de veículos próprios adquiridos é maior do que a oferta de transporte coletivo, o que ocasiona congestionamentos e o aumento da poluição do ar, que nas grandes cidades chega a ser mais alta que a gerada pelas indústrias.
Foi pensando nesse cenário de aumento do uso de veículos motorizados movidos a fontes energéticas potencialmente poluentes, como a gasolina e o diesel, que as pesquisadoras Simone El Khouri Miraglia, professora doutora da Universidade Federal de São Paulo e Cacilda Bastos Pereira da Silva, coordenadora de sustentabilidade do Metrô de São Paulo, realizaram estudo para analisar os impactos ambientais desse fenômeno e estimar os benefícios do metrô para a saúde pública e para o bem estar da população da cidade de São Paulo. Valorizando o uso desse tipo de transporte coletivo como uma alternativa mais sustentável para os deslocamentos urbanos, as pesquisadoras mostram como os investimentos neste tipo de sistema de transporte podem trazer ganhos para o meio ambiente, para a população e para o poder público com a redução de gastos com cuidados e prevenção da saúde pública.
Figura 1
Os transportes coletivos precisam expandir suas redes para atender as necessidades da população e superar o crescimento do uso de automóveis. As bicicletas também podem ser uma alternativa de transporte, mas precisam de ciclovias para circularem com segurança nas grandes cidades.
Para realizar o estudo, as pesquisadoras analisaram como ficou a qualidade do ar com o aumento de automóveis e ônibus na cidade para transportar as pessoas nos dias de paralisações da operação do Metrô em decorrência de greve dos metroviários. A partir dos dados da qualidade do ar, avaliaram os efeitos da poluição atmosférica na saúde da população. As pesquisadoras fizeram estas avaliações durante todas as paralisações ocorridas entre 1986 e 2006.
A qualidade do ar foi avaliada com base nos dados de concentração de material particulado (MP) na atmosfera associando dados de temperatura, umidade relativa do ar e velocidade dos ventos registrados nos dias de paralisação e nos dias anteriores e posteriores à greve. E para relacionar a poluição atmosférica com a saúde pública, foi feito levantamento da mortalidade de pessoas com mais de 60 anos de idade residentes na cidade de São Paulo que morreram em decorrência de problemas respiratórios e cardiovasculares nos dias pesquisados. Com base nos dados das mortes excedentes à média diária do dia da paralisação do serviço do Metrô, ocorridas no período de 72 horas após a greve, calculou-se os custos da saúde decorrentes das paralisações através do método de Valor de Vida Estatística (VVE) que corresponde ao valor atribuível ao risco de vida associado à poluição do ar e à renda da população utilizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Banco Mundial.
A pesquisa foi realizada em três períodos. No primeiro, entre 1986 e 1991, não foi registrado aumento na concentração de MP na atmosfera. A poluição do ar foi mais baixa nos seis dias que durou a paralisação. Esse resultado está relacionado ao período úmido da cidade de São Paulo, observado nos meses de outubro a dezembro, quando a paralisação da operação do metrô ocorreu. Neste período, é maior a dispersão dos poluentes. Foi também nesse primeiro período que o governo do estado de São Paulo começou a controlar a eliminação de poluentes gerados pela queima de combustíveis fósseis por meio do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos (Proconve), criado pelo governo federal. Outro fator que contribuiu para o baixo índice de poluição atmosférica foi o aprimoramento tecnológico de motores pela indústria automobilística, os quais passaram a emitir menos gases poluentes.
No segundo período, de 1994 a 2001, foi registrado um aumento na concentração de MP na atmosfera dias antes da paralisação, com o anúncio antecipado de possível paralisação do serviço do Metrô, sinalizando uma alteração dos hábitos de deslocamento da população. Entretanto, no geral, os níveis de concentração de poluentes foram mais baixos nesse período em comparação ao anterior. Tal fato pode ser uma consequência das medidas de redução de emissões estabelecidas pelo Proconve. Outra medida que a cidade de São Paulo implantou nesse período foi o Rodízio de Veículos, que restringe o uso de automóveis em determinados dias da semana, ajudando a diminuir o nível médio de concentração de poluentes atmosférico.
Já no período de 2003 a 2006, o terceiro momento da pesquisa, a emissão de poluentes foi mais alta nos dias em que o metrô não operou, aumentando em 50% a concentração de material particulado na atmosfera.
Tabela 1
institution Centro Universitário do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
publishDate 2015
publishDateFull 2015-03-02
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As viagens transferidas e as afetadas pelas paralisações, sobretudo ônibus e automóvel, geram maior lentidão na velocidade no trânsito, acréscimo de quilometragem rodada e de consumo de combustível e, portanto, aumento das emissões de poluentes. Além disso, nos dias mais poluídos em que se analisou os efeitos da paralisação da operação de metrô, a pesquisa mostrou um aumento de cerca de 10% na mortalidade de idosos devido a doenças cardiovasculares e respiratórias, como pode ser observado na Tabela 2. A poluição do ar tem efeitos danosos nos aparelhos respiratório e circulatório, podendo ocasionar o aparecimento de tumores nos pulmões. A exposição ao ar muito poluído pode, ainda, levar ao nascimento de bebês com baixo peso e com outras anomalias. A expectativa de vida dos moradores da cidade de São Paulo também é prejudicada com a exposição à poluição do ar. Os resultados da pesquisa reforçam que a poluição do ar na cidade de São Paulo seria muito pior se não existisse o metrô. Sem esse meio de transporte coletivo, a quantidade de veículos em circulação aumentaria, com efeito direto sobre a saúde da população. Os benefícios do metrô para a saúde pública, valorados com base na mortalidade evitada de idosos, representam uma economia anual de cerca de R$ 11 bilhões ao ano que deixam de ser pagos pela sociedade e pelos governos, ao investir em sistemas de transporte para os deslocamentos urbanos, como o metrô, para a sustentabilidade nas cidades e para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. A qualidade de vida nas grandes cidades pode estar comprometida pela perspectiva de aumento da população nas próximas décadas. Quanto mais pessoas morando nas cidades, maior é a necessidade de se usar os recursos naturais (energia, água, matérias primas), e mais alto é o uso de bens de consumo que geram poluição, como os automóveis. Uma alternativa para reduzir os impactos da poluição atmosférica, bem como facilitar a organização dos deslocamentos nas grandes cidades, é o uso dos transportes coletivos pela população. Metrô, trens e ônibus urbanos são uma alternativa para os deslocamentos nas cidades. O uso do transporte coletivo contribui para a diminuição de veículos trafegando nas ruas e avenidas, sujeitas a constantes congestionamentos e consequentemente ao aumento das emissões de gases poluentes na atmosfera. Na cidade de São Paulo, por exemplo, o transporte coletivo atende ao deslocamento de 10 milhões de passageiros por dia. Entretanto, sabe-se que nas grandes cidades a expansão dos sistemas de transporte urbano, como o de metrô, não tem acompanhado a necessidade da população. Nas últimas décadas, percebe-se que o número de veículos próprios adquiridos é maior do que a oferta de transporte coletivo, o que ocasiona congestionamentos e o aumento da poluição do ar, que nas grandes cidades chega a ser mais alta que a gerada pelas indústrias. Foi pensando nesse cenário de aumento do uso de veículos motorizados movidos a fontes energéticas potencialmente poluentes, como a gasolina e o diesel, que as pesquisadoras Simone El Khouri Miraglia, professora doutora da Universidade Federal de São Paulo e Cacilda Bastos Pereira da Silva, coordenadora de sustentabilidade do Metrô de São Paulo, realizaram estudo para analisar os impactos ambientais desse fenômeno e estimar os benefícios do metrô para a saúde pública e para o bem estar da população da cidade de São Paulo. Valorizando o uso desse tipo de transporte coletivo como uma alternativa mais sustentável para os deslocamentos urbanos, as pesquisadoras mostram como os investimentos neste tipo de sistema de transporte podem trazer ganhos para o meio ambiente, para a população e para o poder público com a redução de gastos com cuidados e prevenção da saúde pública. Figura 1 Os transportes coletivos precisam expandir suas redes para atender as necessidades da população e superar o crescimento do uso de automóveis. As bicicletas também podem ser uma alternativa de transporte, mas precisam de ciclovias para circularem com segurança nas grandes cidades. Para realizar o estudo, as pesquisadoras analisaram como ficou a qualidade do ar com o aumento de automóveis e ônibus na cidade para transportar as pessoas nos dias de paralisações da operação do Metrô em decorrência de greve dos metroviários. A partir dos dados da qualidade do ar, avaliaram os efeitos da poluição atmosférica na saúde da população. As pesquisadoras fizeram estas avaliações durante todas as paralisações ocorridas entre 1986 e 2006. A qualidade do ar foi avaliada com base nos dados de concentração de material particulado (MP) na atmosfera associando dados de temperatura, umidade relativa do ar e velocidade dos ventos registrados nos dias de paralisação e nos dias anteriores e posteriores à greve. E para relacionar a poluição atmosférica com a saúde pública, foi feito levantamento da mortalidade de pessoas com mais de 60 anos de idade residentes na cidade de São Paulo que morreram em decorrência de problemas respiratórios e cardiovasculares nos dias pesquisados. Com base nos dados das mortes excedentes à média diária do dia da paralisação do serviço do Metrô, ocorridas no período de 72 horas após a greve, calculou-se os custos da saúde decorrentes das paralisações através do método de Valor de Vida Estatística (VVE) que corresponde ao valor atribuível ao risco de vida associado à poluição do ar e à renda da população utilizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Banco Mundial. A pesquisa foi realizada em três períodos. No primeiro, entre 1986 e 1991, não foi registrado aumento na concentração de MP na atmosfera. A poluição do ar foi mais baixa nos seis dias que durou a paralisação. Esse resultado está relacionado ao período úmido da cidade de São Paulo, observado nos meses de outubro a dezembro, quando a paralisação da operação do metrô ocorreu. Neste período, é maior a dispersão dos poluentes. Foi também nesse primeiro período que o governo do estado de São Paulo começou a controlar a eliminação de poluentes gerados pela queima de combustíveis fósseis por meio do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos (Proconve), criado pelo governo federal. Outro fator que contribuiu para o baixo índice de poluição atmosférica foi o aprimoramento tecnológico de motores pela indústria automobilística, os quais passaram a emitir menos gases poluentes. No segundo período, de 1994 a 2001, foi registrado um aumento na concentração de MP na atmosfera dias antes da paralisação, com o anúncio antecipado de possível paralisação do serviço do Metrô, sinalizando uma alteração dos hábitos de deslocamento da população. Entretanto, no geral, os níveis de concentração de poluentes foram mais baixos nesse período em comparação ao anterior. Tal fato pode ser uma consequência das medidas de redução de emissões estabelecidas pelo Proconve. Outra medida que a cidade de São Paulo implantou nesse período foi o Rodízio de Veículos, que restringe o uso de automóveis em determinados dias da semana, ajudando a diminuir o nível médio de concentração de poluentes atmosférico. Já no período de 2003 a 2006, o terceiro momento da pesquisa, a emissão de poluentes foi mais alta nos dias em que o metrô não operou, aumentando em 50% a concentração de material particulado na atmosfera. Tabela 1 Valoração dos benefícios do Metrô para a Saúde Pública com a redução da poluição do ar em São Paulo O estudo analisou os impactos ambientais desse fenômeno e estimar os benefícios do metrô para a saúde pública e para o bem estar da população da cidade de São Paulo. 2015-03-02 http://biblioteca.sp.senac.br/scripts/bnweb/bnmapi.exe?router=upload/1530 Ciências Biológicas Para realizar o estudo, as pesquisadoras analisaram como ficou a qualidade do ar com o aumento de automóveis e ônibus na cidade para transportar as pessoas nos dias de paralisações da operação do Metrô em decorrência de greve dos metroviários. A partir dos dados da qualidade do ar, avaliaram os efeitos da poluição atmosférica na saúde da população. As pesquisadoras fizeram estas avaliações durante todas as paralisações ocorridas entre 1986 e 2006. A qualidade do ar foi avaliada com base nos dados de concentração de material particulado (MP) na atmosfera associando dados de temperatura, umidade relativa do ar e velocidade dos ventos registrados nos dias de paralisação e nos dias anteriores e posteriores à greve. E para relacionar a poluição atmosférica com a saúde pública, foi feito levantamento da mortalidade de pessoas com mais de 60 anos de idade residentes na cidade de São Paulo que morreram em decorrência de problemas respiratórios e cardiovasculares nos dias pesquisados. Com base nos dados das mortes excedentes à média diária do dia da paralisação do serviço do Metrô, ocorridas no período de 72 horas após a greve, calculou-se os custos da saúde decorrentes das paralisações através do método de Valor de Vida Estatística (VVE) que corresponde ao valor atribuível ao risco de vida associado à poluição do ar e à renda da população utilizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Banco Mundial. 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