Tolerância de dourados e jundiás em níveis de amônia e oxigênio dissolvidos na água: aprimorando as criações em tanques

Detalhes bibliográficos
Principais autores: Bernardo Baldisserotto, Evoy Zaniboni Filho, João Radünz Neto, Vania Vieira, Liliane Bauermann, Tatiana Emanuelli, Ernesto Hashime Kubota
Formato: Online
Publicado em: 2004
Assuntos:
Acesso em linha:https://canalciencia.ibict.br/ciencia-em-sintese/artigo?item_id=24366
id 24366
omeka_modified 2024-10-01T19:00:35Z
record_format oai
collection [CeS] Textos de divulgação
collection_id 1
topic Peixes
Biologia
Brasil
Tecnologia
spellingShingle Peixes
Biologia
Brasil
Tecnologia
Bernardo Baldisserotto
Evoy Zaniboni Filho
João Radünz Neto
Vania Vieira
Liliane Bauermann
Tatiana Emanuelli
Ernesto Hashime Kubota
Tolerância de dourados e jundiás em níveis de amônia e oxigênio dissolvidos na água: aprimorando as criações em tanques
topic_facet Peixes
Biologia
Brasil
Tecnologia
format Online
author Bernardo Baldisserotto
Evoy Zaniboni Filho
João Radünz Neto
Vania Vieira
Liliane Bauermann
Tatiana Emanuelli
Ernesto Hashime Kubota
author_facet Bernardo Baldisserotto
Evoy Zaniboni Filho
João Radünz Neto
Vania Vieira
Liliane Bauermann
Tatiana Emanuelli
Ernesto Hashime Kubota
author_sort Bernardo Baldisserotto
title Tolerância de dourados e jundiás em níveis de amônia e oxigênio dissolvidos na água: aprimorando as criações em tanques
title_short Tolerância de dourados e jundiás em níveis de amônia e oxigênio dissolvidos na água: aprimorando as criações em tanques
title_full Tolerância de dourados e jundiás em níveis de amônia e oxigênio dissolvidos na água: aprimorando as criações em tanques
title_fullStr Tolerância de dourados e jundiás em níveis de amônia e oxigênio dissolvidos na água: aprimorando as criações em tanques
title_full_unstemmed Tolerância de dourados e jundiás em níveis de amônia e oxigênio dissolvidos na água: aprimorando as criações em tanques
title_sort tolerância de dourados e jundiás em níveis de amônia e oxigênio dissolvidos na água: aprimorando as criações em tanques
abstract Neste estudo, os pesquisadores verificaram os efeitos da amônia e do oxigênio dissolvido na sobrevivência e crescimento do jundiá e do dourado
coverage Entre as espécies nativas, o jundiá é um peixe bastante difundido no sul do Brasil e de manejo relativamente fácil, apresentando uma boa aceitação comercial. Nos últimos anos a Universidade Federal de Santa Maria e, mais recentemente, a Universidade Federal de Santa Catarina, vêm realizando trabalhos relacionados com o cultivo desta espécie, na busca das condições ideais para o seu crescimento. O dourado é outra espécie de grande interesse para os piscicultores devido ao grande valor comercial de sua carne, mas seu cultivo não vem se desenvolvendo como seria de se esperar pela absoluta falta de dados confiáveis a respeito. O desconhecimento dos níveis máximos de amônia e mínimos de oxigênio dissolvido, aceitáveis para o crescimento do jundiá (no caso desta espécie existem experimentos relacionando oxigênio dissolvido e crescimento, mas em condições diferente das que serão realizadas) e do dourado, sem duvida é um dos entraves para um melhor rendimento no cultivo destas espécies. No caso do dourado, uma espécie carnívora, o estudo da porcentagem de proteína na ração sobre a quantidade de amônia produzida também será importante para uma análise completa do efeito deste parâmetro, bem como o efeito da proteína no crescimento. Além disso, estudos referentes à fase de larvicultura são de suma importância, visto ser a normatização desta fase a mais difícil etapa para a expansão da criação de dourados. Do mesmo modo, os efeitos das alterações na qualidade da água sobre o metabolismo e a qualidade e palatabilidade da carne dessas espécies permitirá compreender melhor a fisiologia das mesmas e como melhorar a qualidade do produto final a ser oferecido ao consumidor. De posse desses dados o piscicultor poderá planejar com mais precisão qual a renovação e aeração da água necessária para o seu cultivo (para reduzir os níveis de amônia e aumentar os de oxigênio dissolvido), maximizando seus rendimentos.
Entre as várias características físico-químicas da água, duas têm grande importância para a sobrevivência e crescimento dos peixes: a amônia e o oxigênio dissolvido. A amônia vem dos esgotos, descargas industriais e agrícolas e como resíduo natural do processamento das proteínas pelos peixes. A amônia tem formas mais e menos tóxicas. A forma chamada não-ionizada (NH3) é mais tóxica que a ionizada (NH4+). Conhece-se a concentração letal (50% de mortes) de amônia não ionizada para várias espécies. Por exemplo, larvas do peixe pacamã (Lophiosilurus alexandri) morrem com 1,09 miligramas de amônia não ionizada por litro de água, e os juvenis com 0,92 mg por litro. Já os juvenis do guadalupe bass (Micropterus treculi) sucumbem a 0,56 miligramas de amônia por litro. Segundo alguns cientistas esses dados indicam que a concentração "segura" para o crescimento da espécie, ou seja, o nível máximo de amônia na água, estaria em torno de 10% da concentração letal. Contudo, estudos recentes não confirmam que exista relação constante entre concentração letal e concentração segura para crescimento. Ela varia de espécie para espécie: pode ser 3% da concentração letal para o bagre americano Ictalurus punctatus e 12% para o Pimephales promelas. Além disso, o efeito da amônia varia conforme a fase de vida do peixe. Para certas larvas bastam 0,05 miligramas por litro para afetar seu crescimento, e em outras espécies constatou-se que quanto mais amônia na água, menor é o crescimento em peso e comprimento dos alevinos. Concentrações subletais de amônia reduzem o crescimento porque podem causar mudanças nos tecidos dos rins, fígado, baço, na tiróide e no sangue do peixe. Por isso o ideal é criá-los em ambientes com alta concentração de oxigênio dissolvido, mas em lagos e tanques de cultivo, onde a água pouco circula, é freqüente a redução de oxigênio. O peixe dourado (Salminus brasiliensis) é um oxiregulador (ou seja, ele consegue regular a oxigenação do seu corpo mesmo com uma certa redução do nível do oxigênio dissolvido na água) que vive em rios e precisa de águas bem aeradas. A pressão crítica de oxigênio (ou seja, a taxa mínima de oxigênio na água para a sobrevivência dos dourados) é de 45 mmHg (milímetros de mercúrio, uma medida de pressão). Estudos sobre a pressão crítica de oxigênio dos peixes ajudam a dar uma idéia das necessidades das espécies quanto à taxa mínima de oxigênio que deve existir na água. Supõe-se que o crescimento dos peixes não seja afetado enquanto os níveis de oxigênio na água ficarem acima da pressão crítica da espécie. Já o crescimento de juvenis do peixe jundiá (Rhamdia quelen) diminui gradualmente com a redução dos níveis de oxigênio dissolvido na água, o que indica uma espécie oxiconformista, isto é, que é direta e proporcionalmente afetada pelos níveis de oxigênio na água. Outro dado relevante é que o consumo de oxigênio é maior em peixes bem alimentados. Quando diminui a quantidade de oxigênio dissolvido na água, a ingestão de alimento diminui, pois a quantidade disponível não seria suficiente para suprir um peixe bem alimentado. Testes com juvenis de piapara (Leporinus elongatus) mostraram que acima da concentração de 5,2 miligramas de oxigênio por litro, o consumo de alimentos e o ganho de peso independem deste fator, mas que abaixo de 4,2 mg de oxigênio por litro de água o consumo de ração diminui, reduzindo o crescimento. Em resumo, as respostas bioquímicas dos peixes expostos a concentrações variadas de oxigênio e amônia na água variam largamente conforme as espécies. Estas respostas incluem alterações nas células sangüíneas, no padrão de excreção, e a mobilização de reservas para auxiliar a manutenção do metabolismo. A sobrevivência em condições severas de escassez de oxigênio freqüentemente leva o metabolismo energético do peixe a realizar-se por vias anaeróbicas. Isso altera toda a bioquímica do organismo, podendo levar a danos em biomoléculas como proteínas, DNA, RNA e ácidos graxos polinsaturados. A oxidação celular (envelhecimento das células) acelera-se, podendo levar ao chamado estresse oxidativo. Por isso é interessante pesquisar as respostas dos peixes a certas condições de estresse oxidativo, como as águas onde ocorrem muitas mudanças, com variações freqüentes nos níveis de oxigênio e amônia, pois a bioquímica dos peixes, especialmente no que diz respeito à gordura, pode variar consideravelmente conforme a espécie, idade do animal, sexo, estação do ano e fatores ambientais, além de estar totalmente relacionada à alimentação. Finalmente, é preciso dizer que as duas espécies-alvo desta pesquisa têm valor econômico. O jundiá é nativo das Américas Central e do Sul, e seu cultivo vem crescendo progressivamente no sul do Brasil, pelo fato de ser onívoro, com reprodução facilmente induzida, e aceitar ração desde a fase larval. Já o dourado, nativo das bacias dos rios Paraná-Paraguai, Uruguai e Guaíba, é valorizado na pesca esportiva e vem sendo alvo de estudos para o desenvolvimento de tecnologias de cultivo, pois apesar dos hábitos carnívoros apresenta grande interesse para a piscicultura devido ao elevado preço de mercado. Por tudo isso, pesquisadores das Universidades Federais de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e de Santa Catarina, visam, neste estudo: verificar o efeito da amônia e do oxigênio dissolvido na sobrevivência e crescimento do jundiá e do dourado; verificar o padrão de excreção, medindo a quantidade de amônia e uréia excretadas por estas espécies em diferentes estágios do crescimento; determinar a concentração de amônia na água quando alevinos de dourado são alimentados com dietas contendo 36, 40, 44, 48, 52 ou 56% de proteína bruta por 90 dias; determinar possíveis efeitos metabólicos causados pelas concentrações de amônia e oxigênio na água, avaliando-se dados bioquímicos, como a presença de enzimas anti-oxidantes, no sangue e tecidos em ambas as espécies; avaliar o efeito de diferentes fotoperíodos na criação do dourado quanto à sobrevivência e crescimento, estabelecendo um programa de luz que permita a obtenção de melhores resultados na fase inicial de larvicultura do peixe; determinar qual a máxima densidade admissível de larvas na fase inicial de larvicultura do dourado sem prejudicar a sobrevivência da espécie e a qualidade da água; determinar a quantidade de larvas forrageiras (isto é, larvas de outras espécies que alimentam as larvas do dourado) necessárias para cada dia de larvicultura durante a primeira semana de alimentação; e estabelecer conhecimento das características físico-químicas e sensoriais da carne dessas espécies para avaliar o seu potencial nutricional e tecnológico.
Amostra de larvas das espécies estudadas
Peixe jundiá (Rhamdia quelen)
Tanques de água contendo as amostras
Peixe dourado (Salminus brasiliensis)
O trabalho ocorre nos Laboratórios de Fisiologia de Peixes do Departamento de Fisiologia, e de Bioquímica Adaptativa do Departamento de Química, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e no Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce do Departamento de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), entre agosto de 2003 e julho de 2005. São utilizados juvenis e adultos de jundiá e de dourado. Os jundiás são transportados para o Laboratório de Fisiologia de Peixes da UFSM e permanecem ao menos uma semana em caixas de 250 ou 1000 litros (dependendo do tamanho) com temperatura mantida em torno de 23º C, através de ar condicionado, antes dos experimentos. Os dourados são transportados para o Departamento de Aquicultura da UFSC e mantidos em caixas de 1000 litros na temperatura aproximada de 25 C através de aquecedores acoplados a termostato. Alguns exemplares de dourado também são transportados para Laboratório de Fisiologia de Peixes da UFSM para experimentos de excreção de resíduos nitrogenados. Para cada série de experimentos são utilizados diferentes exemplares. Os cientistas realizam vários experimentos para determinar, por exemplo, a dose letal média para amônia não-ionizada e oxigênio dissolvido, nas duas espécies. Os peixes são colocados em recipientes por períodos fixos e submetidos a diferentes concentrações de amônia. Todos os dados físico-químicos da água são anotados, e as experiências são repetidas várias vezes, com os mesmos níveis de amônia e oxigênio, mesmo tipo e quantidade de ração protéica, etc., para consolidar os resultados. Repetindo experiências com durações variáveis (de 96 horas a 30 dias) os pesquisadores esperam determinar os parâmetros de sobrevivência e crescimento para as duas espécies, na presença de diversas concentrações de oxigênio e amônia. Essencialmente trata-se de reproduzir em laboratório e sob medições acuradas as condições de um criadouro, buscando estabelecer os níveis ideais para máximo rendimento do crescimento das espécies. Outros experimentos, em que os peixes são colocados em tanques de água limpa e alimentados, para posterior avaliação da água após 12, 24 e 48 horas da alimentação, buscam determinar os níveis de excreção de amônia e uréia do jundiá e do dourado, ou seja, quantificar a produção destes resíduos nitrogenados pelos peixes ao longo das 48 primeiras horas após a alimentação. O fornecimento de dietas controladas a alevinos do dourado, com controle periódico dos parâmetros físico-químicos da água dos tanques, buscará determinar os efeitos da concentração protéica da dieta no teor de amônia na água. Outros experimentos testarão os métodos de larvicultura do dourado, as necessidades de alimentação das larvas e as variações nos parâmetros físico-químicos da água. O chamado experimento fotoperíodo submeterá as larvas a diferentes condições de luz no decorrer de períodos experimentais de 7 dias, desde escuridão total durante todo o período, passando pelas variações possíveis, até 7 períodos de luz, e relacionando esta variação com crescimento, alimentação, etc. Será testada também a chamada densidade de estocagem dos dourados (de 15 a 135 espécimes por litro), bem como realizadas medidas para determinar o consumo diário de larvas forrageiras, e coletas de material biológico dos peixes para análises bioquímicas de sangue, tecidos, órgãos, enzimas anti-oxidantes, etc. O rendimento das carcaças e a composição da carne também serão verificados, para estabelecer níveis de gordura e outros dados. Para a avaliação sensorial, os peixes serão filetados e os filés serão cozidos, identificados por números aleatórios e submetidos à análise sensorial por um grupo de provadores treinados, que vai avaliar os atributos de sabor, odor e textura. Finalmente, dados estatísticos serão calculados, para avaliar a sobrevivência e o crescimento dos alevinos de jundiá, como taxa percentual de sobreviventes ao final de cada tratamento, taxa de crescimento específico (isto é, a diferença de peso entre dois instantes sucessivos de criação, dividida pelo número de dias que os separa), biomassa total (peso médio multiplicado pelo número de exemplares restantes ao final do tratamento), conversão alimentar aparente (isto é, a quantidade de ração oferecida em gramas dividida pelo resultado da subtração da biomassa inicial da biomassa final), etc.
institution Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Universidade Federal de Santa Maria
Universidade Federal de Santa Catarina
publishDate 2004
publishDateFull 2004-03-16
url https://canalciencia.ibict.br/ciencia-em-sintese/artigo?item_id=24366
identifier https://repositorio.canalciencia.ibict.br/api/items/24366
https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/769bdfa3c076ca44eb525a4b2597a42b0e2b1e67.jpg
https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/5c6fec6faa7445fcb2c52230df0bedcca7dcde88.jpg
https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/f467b045da8702e6cbd17550fee0d504cb2c79ab.jpg
https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/461d6a2c591c08e9e4b0a4af252de2bbb54361ca.jpg
https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/e560ccad83c8dd25eaf8c43fc1c1a14657c9f703.jpg
thumbnail https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/large/769bdfa3c076ca44eb525a4b2597a42b0e2b1e67.jpg
area Ciências Agrárias
work_keys_str_mv AT bernardobaldisserotto toleranciadedouradosejundiasemniveisdeamoniaeoxigeniodissolvidosnaaguaaprimorandoascriacoesemtanques
AT evoyzanibonifilho toleranciadedouradosejundiasemniveisdeamoniaeoxigeniodissolvidosnaaguaaprimorandoascriacoesemtanques
AT joaoradunzneto toleranciadedouradosejundiasemniveisdeamoniaeoxigeniodissolvidosnaaguaaprimorandoascriacoesemtanques
AT vaniavieira toleranciadedouradosejundiasemniveisdeamoniaeoxigeniodissolvidosnaaguaaprimorandoascriacoesemtanques
AT lilianebauermann toleranciadedouradosejundiasemniveisdeamoniaeoxigeniodissolvidosnaaguaaprimorandoascriacoesemtanques
AT tatianaemanuelli toleranciadedouradosejundiasemniveisdeamoniaeoxigeniodissolvidosnaaguaaprimorandoascriacoesemtanques
AT ernestohashimekubota toleranciadedouradosejundiasemniveisdeamoniaeoxigeniodissolvidosnaaguaaprimorandoascriacoesemtanques
first_indexed 2023-05-02T13:36:46Z
last_indexed 2024-10-01T18:00:13Z
_version_ 1819239953003970560
spelling 243662024-10-01T19:00:35Z1[CeS] Textos de divulgação Tolerância de dourados e jundiás em níveis de amônia e oxigênio dissolvidos na água: aprimorando as criações em tanques Bernardo Baldisserotto Evoy Zaniboni Filho João Radünz Neto Vania Vieira Liliane Bauermann Tatiana Emanuelli Ernesto Hashime Kubota Peixes Biologia Brasil Tecnologia Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Universidade Federal de Santa Maria Universidade Federal de Santa Catarina 2004-03-16 114.jpg vignette : https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/large/769bdfa3c076ca44eb525a4b2597a42b0e2b1e67.jpg Entre as espécies nativas, o jundiá é um peixe bastante difundido no sul do Brasil e de manejo relativamente fácil, apresentando uma boa aceitação comercial. Nos últimos anos a Universidade Federal de Santa Maria e, mais recentemente, a Universidade Federal de Santa Catarina, vêm realizando trabalhos relacionados com o cultivo desta espécie, na busca das condições ideais para o seu crescimento. O dourado é outra espécie de grande interesse para os piscicultores devido ao grande valor comercial de sua carne, mas seu cultivo não vem se desenvolvendo como seria de se esperar pela absoluta falta de dados confiáveis a respeito. O desconhecimento dos níveis máximos de amônia e mínimos de oxigênio dissolvido, aceitáveis para o crescimento do jundiá (no caso desta espécie existem experimentos relacionando oxigênio dissolvido e crescimento, mas em condições diferente das que serão realizadas) e do dourado, sem duvida é um dos entraves para um melhor rendimento no cultivo destas espécies. No caso do dourado, uma espécie carnívora, o estudo da porcentagem de proteína na ração sobre a quantidade de amônia produzida também será importante para uma análise completa do efeito deste parâmetro, bem como o efeito da proteína no crescimento. Além disso, estudos referentes à fase de larvicultura são de suma importância, visto ser a normatização desta fase a mais difícil etapa para a expansão da criação de dourados. Do mesmo modo, os efeitos das alterações na qualidade da água sobre o metabolismo e a qualidade e palatabilidade da carne dessas espécies permitirá compreender melhor a fisiologia das mesmas e como melhorar a qualidade do produto final a ser oferecido ao consumidor. De posse desses dados o piscicultor poderá planejar com mais precisão qual a renovação e aeração da água necessária para o seu cultivo (para reduzir os níveis de amônia e aumentar os de oxigênio dissolvido), maximizando seus rendimentos. Entre as várias características físico-químicas da água, duas têm grande importância para a sobrevivência e crescimento dos peixes: a amônia e o oxigênio dissolvido. A amônia vem dos esgotos, descargas industriais e agrícolas e como resíduo natural do processamento das proteínas pelos peixes. A amônia tem formas mais e menos tóxicas. A forma chamada não-ionizada (NH3) é mais tóxica que a ionizada (NH4+). Conhece-se a concentração letal (50% de mortes) de amônia não ionizada para várias espécies. Por exemplo, larvas do peixe pacamã (Lophiosilurus alexandri) morrem com 1,09 miligramas de amônia não ionizada por litro de água, e os juvenis com 0,92 mg por litro. Já os juvenis do guadalupe bass (Micropterus treculi) sucumbem a 0,56 miligramas de amônia por litro. Segundo alguns cientistas esses dados indicam que a concentração "segura" para o crescimento da espécie, ou seja, o nível máximo de amônia na água, estaria em torno de 10% da concentração letal. Contudo, estudos recentes não confirmam que exista relação constante entre concentração letal e concentração segura para crescimento. Ela varia de espécie para espécie: pode ser 3% da concentração letal para o bagre americano Ictalurus punctatus e 12% para o Pimephales promelas. Além disso, o efeito da amônia varia conforme a fase de vida do peixe. Para certas larvas bastam 0,05 miligramas por litro para afetar seu crescimento, e em outras espécies constatou-se que quanto mais amônia na água, menor é o crescimento em peso e comprimento dos alevinos. Concentrações subletais de amônia reduzem o crescimento porque podem causar mudanças nos tecidos dos rins, fígado, baço, na tiróide e no sangue do peixe. Por isso o ideal é criá-los em ambientes com alta concentração de oxigênio dissolvido, mas em lagos e tanques de cultivo, onde a água pouco circula, é freqüente a redução de oxigênio. O peixe dourado (Salminus brasiliensis) é um oxiregulador (ou seja, ele consegue regular a oxigenação do seu corpo mesmo com uma certa redução do nível do oxigênio dissolvido na água) que vive em rios e precisa de águas bem aeradas. A pressão crítica de oxigênio (ou seja, a taxa mínima de oxigênio na água para a sobrevivência dos dourados) é de 45 mmHg (milímetros de mercúrio, uma medida de pressão). Estudos sobre a pressão crítica de oxigênio dos peixes ajudam a dar uma idéia das necessidades das espécies quanto à taxa mínima de oxigênio que deve existir na água. Supõe-se que o crescimento dos peixes não seja afetado enquanto os níveis de oxigênio na água ficarem acima da pressão crítica da espécie. Já o crescimento de juvenis do peixe jundiá (Rhamdia quelen) diminui gradualmente com a redução dos níveis de oxigênio dissolvido na água, o que indica uma espécie oxiconformista, isto é, que é direta e proporcionalmente afetada pelos níveis de oxigênio na água. Outro dado relevante é que o consumo de oxigênio é maior em peixes bem alimentados. Quando diminui a quantidade de oxigênio dissolvido na água, a ingestão de alimento diminui, pois a quantidade disponível não seria suficiente para suprir um peixe bem alimentado. Testes com juvenis de piapara (Leporinus elongatus) mostraram que acima da concentração de 5,2 miligramas de oxigênio por litro, o consumo de alimentos e o ganho de peso independem deste fator, mas que abaixo de 4,2 mg de oxigênio por litro de água o consumo de ração diminui, reduzindo o crescimento. Em resumo, as respostas bioquímicas dos peixes expostos a concentrações variadas de oxigênio e amônia na água variam largamente conforme as espécies. Estas respostas incluem alterações nas células sangüíneas, no padrão de excreção, e a mobilização de reservas para auxiliar a manutenção do metabolismo. A sobrevivência em condições severas de escassez de oxigênio freqüentemente leva o metabolismo energético do peixe a realizar-se por vias anaeróbicas. Isso altera toda a bioquímica do organismo, podendo levar a danos em biomoléculas como proteínas, DNA, RNA e ácidos graxos polinsaturados. A oxidação celular (envelhecimento das células) acelera-se, podendo levar ao chamado estresse oxidativo. Por isso é interessante pesquisar as respostas dos peixes a certas condições de estresse oxidativo, como as águas onde ocorrem muitas mudanças, com variações freqüentes nos níveis de oxigênio e amônia, pois a bioquímica dos peixes, especialmente no que diz respeito à gordura, pode variar consideravelmente conforme a espécie, idade do animal, sexo, estação do ano e fatores ambientais, além de estar totalmente relacionada à alimentação. Finalmente, é preciso dizer que as duas espécies-alvo desta pesquisa têm valor econômico. O jundiá é nativo das Américas Central e do Sul, e seu cultivo vem crescendo progressivamente no sul do Brasil, pelo fato de ser onívoro, com reprodução facilmente induzida, e aceitar ração desde a fase larval. Já o dourado, nativo das bacias dos rios Paraná-Paraguai, Uruguai e Guaíba, é valorizado na pesca esportiva e vem sendo alvo de estudos para o desenvolvimento de tecnologias de cultivo, pois apesar dos hábitos carnívoros apresenta grande interesse para a piscicultura devido ao elevado preço de mercado. Por tudo isso, pesquisadores das Universidades Federais de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e de Santa Catarina, visam, neste estudo: verificar o efeito da amônia e do oxigênio dissolvido na sobrevivência e crescimento do jundiá e do dourado; verificar o padrão de excreção, medindo a quantidade de amônia e uréia excretadas por estas espécies em diferentes estágios do crescimento; determinar a concentração de amônia na água quando alevinos de dourado são alimentados com dietas contendo 36, 40, 44, 48, 52 ou 56% de proteína bruta por 90 dias; determinar possíveis efeitos metabólicos causados pelas concentrações de amônia e oxigênio na água, avaliando-se dados bioquímicos, como a presença de enzimas anti-oxidantes, no sangue e tecidos em ambas as espécies; avaliar o efeito de diferentes fotoperíodos na criação do dourado quanto à sobrevivência e crescimento, estabelecendo um programa de luz que permita a obtenção de melhores resultados na fase inicial de larvicultura do peixe; determinar qual a máxima densidade admissível de larvas na fase inicial de larvicultura do dourado sem prejudicar a sobrevivência da espécie e a qualidade da água; determinar a quantidade de larvas forrageiras (isto é, larvas de outras espécies que alimentam as larvas do dourado) necessárias para cada dia de larvicultura durante a primeira semana de alimentação; e estabelecer conhecimento das características físico-químicas e sensoriais da carne dessas espécies para avaliar o seu potencial nutricional e tecnológico. Amostra de larvas das espécies estudadas Peixe jundiá (Rhamdia quelen) Tanques de água contendo as amostras Peixe dourado (Salminus brasiliensis) O trabalho ocorre nos Laboratórios de Fisiologia de Peixes do Departamento de Fisiologia, e de Bioquímica Adaptativa do Departamento de Química, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e no Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce do Departamento de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), entre agosto de 2003 e julho de 2005. São utilizados juvenis e adultos de jundiá e de dourado. Os jundiás são transportados para o Laboratório de Fisiologia de Peixes da UFSM e permanecem ao menos uma semana em caixas de 250 ou 1000 litros (dependendo do tamanho) com temperatura mantida em torno de 23º C, através de ar condicionado, antes dos experimentos. Os dourados são transportados para o Departamento de Aquicultura da UFSC e mantidos em caixas de 1000 litros na temperatura aproximada de 25 C através de aquecedores acoplados a termostato. Alguns exemplares de dourado também são transportados para Laboratório de Fisiologia de Peixes da UFSM para experimentos de excreção de resíduos nitrogenados. Para cada série de experimentos são utilizados diferentes exemplares. Os cientistas realizam vários experimentos para determinar, por exemplo, a dose letal média para amônia não-ionizada e oxigênio dissolvido, nas duas espécies. Os peixes são colocados em recipientes por períodos fixos e submetidos a diferentes concentrações de amônia. Todos os dados físico-químicos da água são anotados, e as experiências são repetidas várias vezes, com os mesmos níveis de amônia e oxigênio, mesmo tipo e quantidade de ração protéica, etc., para consolidar os resultados. Repetindo experiências com durações variáveis (de 96 horas a 30 dias) os pesquisadores esperam determinar os parâmetros de sobrevivência e crescimento para as duas espécies, na presença de diversas concentrações de oxigênio e amônia. Essencialmente trata-se de reproduzir em laboratório e sob medições acuradas as condições de um criadouro, buscando estabelecer os níveis ideais para máximo rendimento do crescimento das espécies. Outros experimentos, em que os peixes são colocados em tanques de água limpa e alimentados, para posterior avaliação da água após 12, 24 e 48 horas da alimentação, buscam determinar os níveis de excreção de amônia e uréia do jundiá e do dourado, ou seja, quantificar a produção destes resíduos nitrogenados pelos peixes ao longo das 48 primeiras horas após a alimentação. O fornecimento de dietas controladas a alevinos do dourado, com controle periódico dos parâmetros físico-químicos da água dos tanques, buscará determinar os efeitos da concentração protéica da dieta no teor de amônia na água. Outros experimentos testarão os métodos de larvicultura do dourado, as necessidades de alimentação das larvas e as variações nos parâmetros físico-químicos da água. O chamado experimento fotoperíodo submeterá as larvas a diferentes condições de luz no decorrer de períodos experimentais de 7 dias, desde escuridão total durante todo o período, passando pelas variações possíveis, até 7 períodos de luz, e relacionando esta variação com crescimento, alimentação, etc. Será testada também a chamada densidade de estocagem dos dourados (de 15 a 135 espécimes por litro), bem como realizadas medidas para determinar o consumo diário de larvas forrageiras, e coletas de material biológico dos peixes para análises bioquímicas de sangue, tecidos, órgãos, enzimas anti-oxidantes, etc. O rendimento das carcaças e a composição da carne também serão verificados, para estabelecer níveis de gordura e outros dados. Para a avaliação sensorial, os peixes serão filetados e os filés serão cozidos, identificados por números aleatórios e submetidos à análise sensorial por um grupo de provadores treinados, que vai avaliar os atributos de sabor, odor e textura. Finalmente, dados estatísticos serão calculados, para avaliar a sobrevivência e o crescimento dos alevinos de jundiá, como taxa percentual de sobreviventes ao final de cada tratamento, taxa de crescimento específico (isto é, a diferença de peso entre dois instantes sucessivos de criação, dividida pelo número de dias que os separa), biomassa total (peso médio multiplicado pelo número de exemplares restantes ao final do tratamento), conversão alimentar aparente (isto é, a quantidade de ração oferecida em gramas dividida pelo resultado da subtração da biomassa inicial da biomassa final), etc. Aprimoramento da criação de jundiá, Rhamdia quelen, e dourado, Salminus brasiliensis Neste estudo, os pesquisadores verificaram os efeitos da amônia e do oxigênio dissolvido na sobrevivência e crescimento do jundiá e do dourado 2004-03-16 Ciências Agrárias O trabalho ocorre nos Laboratórios de Fisiologia de Peixes do Departamento de Fisiologia, e de Bioquímica Adaptativa do Departamento de Química, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e no Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce do Departamento de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), entre agosto de 2003 e julho de 2005. São utilizados juvenis e adultos de jundiá e de dourado. Os jundiás são transportados para o Laboratório de Fisiologia de Peixes da UFSM e permanecem ao menos uma semana em caixas de 250 ou 1000 litros (dependendo do tamanho) com temperatura mantida em torno de 23º C, através de ar condicionado, antes dos experimentos. Os dourados são transportados para o Departamento de Aquicultura da UFSC e mantidos em caixas de 1000 litros na temperatura aproximada de 25 C através de aquecedores acoplados a termostato. Alguns exemplares de dourado também são transportados para Laboratório de Fisiologia de Peixes da UFSM para experimentos de excreção de resíduos nitrogenados. Para cada série de experimentos são utilizados diferentes exemplares. Os cientistas realizam vários experimentos para determinar, por exemplo, a dose letal média para amônia não-ionizada e oxigênio dissolvido, nas duas espécies. Os peixes são colocados em recipientes por períodos fixos e submetidos a diferentes concentrações de amônia. Todos os dados físico-químicos da água são anotados, e as experiências são repetidas várias vezes, com os mesmos níveis de amônia e oxigênio, mesmo tipo e quantidade de ração protéica, etc., para consolidar os resultados. Repetindo experiências com durações variáveis (de 96 horas a 30 dias) os pesquisadores esperam determinar os parâmetros de sobrevivência e crescimento para as duas espécies, na presença de diversas concentrações de oxigênio e amônia. Essencialmente trata-se de reproduzir em laboratório e sob medições acuradas as condições de um criadouro, buscando estabelecer os níveis ideais para máximo rendimento do crescimento das espécies. Outros experimentos, em que os peixes são colocados em tanques de água limpa e alimentados, para posterior avaliação da água após 12, 24 e 48 horas da alimentação, buscam determinar os níveis de excreção de amônia e uréia do jundiá e do dourado, ou seja, quantificar a produção destes resíduos nitrogenados pelos peixes ao longo das 48 primeiras horas após a alimentação. O fornecimento de dietas controladas a alevinos do dourado, com controle periódico dos parâmetros físico-químicos da água dos tanques, buscará determinar os efeitos da concentração protéica da dieta no teor de amônia na água. Outros experimentos testarão os métodos de larvicultura do dourado, as necessidades de alimentação das larvas e as variações nos parâmetros físico-químicos da água. O chamado experimento fotoperíodo submeterá as larvas a diferentes condições de luz no decorrer de períodos experimentais de 7 dias, desde escuridão total durante todo o período, passando pelas variações possíveis, até 7 períodos de luz, e relacionando esta variação com crescimento, alimentação, etc. Será testada também a chamada densidade de estocagem dos dourados (de 15 a 135 espécimes por litro), bem como realizadas medidas para determinar o consumo diário de larvas forrageiras, e coletas de material biológico dos peixes para análises bioquímicas de sangue, tecidos, órgãos, enzimas anti-oxidantes, etc. O rendimento das carcaças e a composição da carne também serão verificados, para estabelecer níveis de gordura e outros dados. Para a avaliação sensorial, os peixes serão filetados e os filés serão cozidos, identificados por números aleatórios e submetidos à análise sensorial por um grupo de provadores treinados, que vai avaliar os atributos de sabor, odor e textura. Finalmente, dados estatísticos serão calculados, para avaliar a sobrevivência e o crescimento dos alevinos de jundiá, como taxa percentual de sobreviventes ao final de cada tratamento, taxa de crescimento específico (isto é, a diferença de peso entre dois instantes sucessivos de criação, dividida pelo número de dias que os separa), biomassa total (peso médio multiplicado pelo número de exemplares restantes ao final do tratamento), conversão alimentar aparente (isto é, a quantidade de ração oferecida em gramas dividida pelo resultado da subtração da biomassa inicial da biomassa final), etc. https://repositorio.canalciencia.ibict.br/api/items/24366 https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/769bdfa3c076ca44eb525a4b2597a42b0e2b1e67.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/5c6fec6faa7445fcb2c52230df0bedcca7dcde88.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/f467b045da8702e6cbd17550fee0d504cb2c79ab.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/461d6a2c591c08e9e4b0a4af252de2bbb54361ca.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/e560ccad83c8dd25eaf8c43fc1c1a14657c9f703.jpg