Cientistas estudam mamíferos da Chapada Diamantina para compreender evolução de espécies da Mata Atlântica

Detalhes bibliográficos
Autor principal: Lena Geise
Formato: Online
Publicado em: 2003
Assuntos:
Acesso em linha:https://canalciencia.ibict.br/ciencia-em-sintese/artigo?item_id=23620
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abstract A origem e a história biogeográfica (isto é, os padrões e processos de distribuição dos animais e vegetais, baseados na história da paisagem) dos elementos que a compõem ainda não foram elucidadas satisfatoriamente.
coverage As metas mais amplas dessa pesquisa são identificar taxonômica e filogeneticamente as afinidades faunísticas e as razões da composição de espécies encontrada, e determinar as variações em menor escala, dentro de cada espécie. Espera-se, ao final do projeto, entender de uma forma clara a origem e evolução dos mamíferos da Chapada e com isso colocar mais uma peça no quebra-cabeça da origem e diversificação da Mata Atlântica. Os objetivos específicos do estudo incluem: 1.a elaboração de uma lista dos mamíferos da Chapada Diamantina, do Vale do Jequitinhonha e região litorânea da Bahia; 2.a comparação da fauna da Chapada Diamantina com os outros biomas, para estabelecer a sua identidade; 3.a filogeografia molecular da catita e dos roedores silvestres Akodon aff. cursor e Oryzomys gr. subflavus (e de outras espécies a serem definidas ao longo das coletas que sejam capturadas em número suficiente a permitir tal análise); 4.o estudo da variação geográfica (citogenética, molecular e morfológica) das mesmas espécies utilizadas para a análise filogeográfica, a fim de entender os padrões evolutivos envolvidos nas diferenciações intra e interespecíficas e estabelecer um arcabouço temporal; e 5.estudos citogenéticos (cromossômicos) em algumas espécies selecionadas da Ordem Rodentia (roedores).
A Mata Atlântica destaca-se como a principal paisagem florestal no leste do território brasileiro. A origem e a história biogeográfica (isto é, os padrões e processos de distribuição dos animais e vegetais, baseados na história da paisagem) dos elementos que a compõem ainda não foram elucidadas satisfatoriamente. A presença de certos tipos de plantas ou vegetais, ditas basais em função da sua antiguidade, tem sido interpretada como evidência de uma origem antiga, provavelmente anterior ao Período Cretáceo (entre 145 e 65 milhões de anos atrás). A existência de espécies comuns às florestas Amazônica e Atlântica, separadas por uma área conhecida como “diagonal das formações abertas brasileiras” (que correspondem ao Cerrado e à Caatinga), indica uma conexão recente, entre 10.000 e 12.000 anos atrás, numa época mais úmida. Mas a Mata Atlântica também apresenta relação biogeográfica com o Cerrado, com o qual compartilha extensa zona de transição, e com a Caatinga, através de enclaves florestais. Portanto ela não é homogênea na distribuição e composição de suas espécies e apresenta tanto grandes áreas de transição faunística quanto prováveis zonas de endemismos (isto é, de espécies típicas daquela paisagem). Na Mata Atlântica já foram registradas aproximadamente 229 espécies de mamíferos, das quais cerca de 73 são endêmicas (~32%), sendo os roedores, com 39 espécies, responsáveis por mais de 17% desses endemismos. Apesar de tudo que se sabe sobre a sua fauna de mamíferos, os padrões de distribuição e os limites das zonas de diversidade na Mata Atlântica ainda não foram adequadamente compreendidos. Estudos sugerem a existência de quatro regiões mastofaunísticas (isto é, de fauna de mamíferos) na Mata Atlântica: 1.“região nordeste” – entre a foz do rio São Francisco e o Rio Grande do Norte, com espécies comuns às florestas Atlântica e Amazônica (como o tamanduá-mirim e o macaco-guariba); 2.“sudeste da Bahia” – desde o norte do Espírito Santo até o sul da foz do rio São Francisco, com formas endêmicas próprias (rato-do-cacau e ouriço preto); 3.“Rio de Janeiro” – entre o Espírito Santo até São Paulo na altura do Trópico de Capricórnio, também com mamíferos endêmicos (o sagüi-da-serra e o rato-do-mato-laranja); e 4.“região sul” – ao sul do Trópico de Capricórnio até o norte do Rio Grande do Sul, que apresenta algumas espécies características (como o morcego-orelhudo). Nas regiões “sudeste da Bahia” e “Rio de Janeiro” vivem mamíferos característicos da Mata Atlêntica, que são espécies endêmicas comuns (a preguiça-de-coleira, o rato-do-mato, e o maior macaco brasileiro, o mono-carvoeiro, etc.). Os resultados são parecidos quando se examinam outros grupos taxonômicos (borboletas, anfíbios, répteis, aves, plantas, etc.). Mas é difícil que uma única hipótese explique todo o processo de diversificação dos mamíferos da Mata Atlântica. É possível que uma visão integrada, considerando várias hipóteses, possa ajudar a entender os padrões de distribuição geográfica, processos de diversificação e manutenção do grupo biológico em questão. Os possíveis eventos invocados como explicativos dos padrões encontrados também divergem. Estudos identificam três padrões para descrever a atual distribuição dos mamíferos da Mata Atlântica. O primeiro, agrupa espécies de distribuição disjunta, relacionadas às áreas abertas, florestais ou montanhosas (como cuícas d’água, gambás, doninhas, tapitis, e roedores, e espécies da família dos sagüis); um outro padrão está relacionado aos “refúgios do Quaternário”, isto é, ambientes que permaneceram aquecidos durante eras de glaciações (nestas áreas viveriam, até hoje, o sagüi comum e as espécies de mico-leão) e um terceiro padrão “em mosaico”, que não pode ser explicado diretamente através de causas históricas (incluindo o rato-do-brejo, alguns roedores arborícolas e tatus). A maioria das áreas de endemismos propostas e as “causas” dos atuais padrões de distribuição dos mamíferos da Mata Atlântica apresentam relação com locais propostos como refúgios do Período Quaternário (de 1,8 milhão de anos atrás até hoje), quando o planeta sofreu diversas glaciações (resfriamento global e extensão das calotas polares sobre vastas áreas). No entanto, apesar das evidências de dados moleculares (pesquisas genéticas), vários autores contestam a influência das glaciações sobre a diversificação das espécies dos mamíferos na América do Sul tropical, atribuindo os padrões a diferentes episódios. Apesar da forma original contínua da Mata Atlântica, no que diz respeito aos mamíferos, existem várias “Matas Atlânticas”. A Chapada Diamantina, por sua posição como um enclave misto de matas semidecíduas, sempre-verdes, campos rupestres e cerrado, separada da Mata Atlântica costeira do sul da Bahia por uma ampla faixa de vegetação aberta, constitui uma região de florestas isoladas, de afinidades faunísticas até agora inexploradas. Segundo pesquisas recentes, as aves da região apresentam elementos em comum com as áreas abertas próximas, de Caatinga e Cerrado, e com a Mata Atlântica. Análises preliminares mostram que o mesmo ocorre com os mamíferos, com existência de espécies características de Cerrado-Caatinga (rato-do-mato Bolomys lasiurus, o roedor punaré Thrichomys apereoides e o mocó Galea spixii) e de espécies florestais (como a catita). Estes resultados sugerem que uma parte significativa dos mamíferos da Chapada Diamantina tem relação com os da Mata Atlântica. Diante desse quadro, pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo pretendem realizar um levantamento extensivo das espécies de mamíferos presentes nas diferentes formações vegetais da Chapada Diamantina. Para compreender os padrões de diversidade, as afinidades em relação aos outros biomas e o grau de divergência numa escala temporal e de variação, serão necessárias coletas em áreas que forneçam amostras das mesmas espécies, num esforço a ser realizado nas áreas de florestas remanescentes. As áreas escolhidas para comparação com a Chapada Diamantina são algumas localidades do Vale do Jequitinhonha e da região litorânea do sul da Bahia (município de Ilhéus e adjacências). Será estudado o maior número de espécies possível, incluindo pequenos e médios mamíferos, e ainda os morcegos, grupo usualmente excluído neste tipo de análise. As ferramentas (citogenética, genética molecular, com seqüenciamento de parte do ADN, morfometria e morfologia) propostas pretendem detectar padrões de variação intra e inter-específica (ou seja, dentro e entre as espécies).
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Para entender a origem e as relações dos mamíferos da Chapada Diamantina, dois grandes grupos de trabalho deverão nortear a pesquisa: 1.o levantamento faunístico/taxonômico e a comparação destes resultados com dados sobre o Cerrado e a Mata Atlântica; e 2.o estudo populacional da variação em diversos níveis (da seqüência dos genes e do tamanho craniano) em algumas espécies que apresentam amostras em tamanho ideal e que então permitam uma análise comparativa. Estes dois grupos de trabalho estão definidos tanto do ponto de vista operacional como teórico. O levantamento taxonômico e faunístico permite estabelecer as afinidades da fauna de mamíferos da Chapada Diamantina com os biomas em torno, respondendo às seguintes questões: 1.estes mamíferos estão mais relacionados ao Cerrado, à Mata Atlântica, ou são uma combinação destes dois biomas?; 2.se esta última alternativa for aceita, em que proporção estes biomas contribuem para a Chapada?; e 3.a análise populacional irá permitir descrever e entender os padrões de variação geográfica e suas causas (históricas ou ecológicas) ao combinar o estudo da variação morfométrica (medidas e formas) com a análise genética? Estão previstas expedições de coleta, com duração de cerca 45 dias cada, para levantar a fauna de mamíferos na região da Chapada Diamantina, e das áreas comparativas do Vale do Jequitinhonha e da região litorânea do sul da Bahia. Nas expedições serão empregados métodos diferentes e complementares, de forma a amostrar da maneira mais completa, neste espaço de tempo, a diversidade de mamíferos existente. As capturas serão realizadas com armadilhas de captura-viva e de mola, armadilhas-de-queda e redes de neblina para morcegos. De todos os espécimes capturados e sacrificados, será coletado material genético. Essas amostras de tecido serão conservadas e armazenadas na coleção de tecidos do laboratório de Zoologia de Vertebrados da UERJ. A pele e os esqueletos serão depositados no Museu Nacional do Rio de Janeiro e no Museu de Zoologia da USP. É importante esclarecer que serão coletados apenas 3 a 5 exemplares por espécie por localidade (conforme licença do IBAMA no 014/2003, proc. 02001.009374/02-86). Outros espécimens serão soltos após identificação. As espécies ameaçadas de extinção, segundo portaria no 1522 de 19/12/1989, não serão coletadas, sendo registradas apenas por observação e evidências indiretas. A presença de espécies na área será confirmada apenas a partir de exemplares observados e/ou coletados, sendo obrigatoriamente identificados pelos especialistas da equipe. Os espécimes coletados serão sacrificados de acordo com os preceitos humanitários seguidos pela comunidade científica internacional, buscando assim minimizar qualquer tipo de sofrimento. Será realizada a análise citogenética (dos cromossomos) dos espécimes capturados, a extração do material genético, com a amplificação e seqüenciamento do ADN para a análise filogenética. Além disso, será estudado o material já depositado em coleções científicas do Museu Nacional e Museu de Zoologia da USP. Os crânios de algumas espécies serão medidos, para comparação com o material coletado. Serão realizadas também análises morfológicas, visto que a identificação das espécies coletadas terá como base as características anatômicas externas e os caracteres crânio-dentários. Nas análises morfométricas, serão empregadas medidas corpóreas (padrão em estudos de mamíferos) e medidas cranianas. As classes etárias relativas serão determinadas com base na eclosão e desgaste dentários, de forma a selecionar os indivíduos adultos que serão utilizados na caracterização e comparação das espécies.
institution Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Instituto Nacional do Câncer
Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo
publishDate 2003
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spelling 236202024-10-01T19:00:31Z1[CeS] Textos de divulgação Cientistas estudam mamíferos da Chapada Diamantina para compreender evolução de espécies da Mata Atlântica Lena Geise Alta pluviosidade Chapada diamantina Animais Vegetais Mata Atlântica Amazônia Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Universidade do Estado do Rio de Janeiro Instituto Nacional do Câncer Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo 2003-12-03 00181_1.jpg vignette : https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/large/941bacc8471ebd0fea0f8a16207735ee07ce389e.jpg As metas mais amplas dessa pesquisa são identificar taxonômica e filogeneticamente as afinidades faunísticas e as razões da composição de espécies encontrada, e determinar as variações em menor escala, dentro de cada espécie. Espera-se, ao final do projeto, entender de uma forma clara a origem e evolução dos mamíferos da Chapada e com isso colocar mais uma peça no quebra-cabeça da origem e diversificação da Mata Atlântica. Os objetivos específicos do estudo incluem: 1.a elaboração de uma lista dos mamíferos da Chapada Diamantina, do Vale do Jequitinhonha e região litorânea da Bahia; 2.a comparação da fauna da Chapada Diamantina com os outros biomas, para estabelecer a sua identidade; 3.a filogeografia molecular da catita e dos roedores silvestres Akodon aff. cursor e Oryzomys gr. subflavus (e de outras espécies a serem definidas ao longo das coletas que sejam capturadas em número suficiente a permitir tal análise); 4.o estudo da variação geográfica (citogenética, molecular e morfológica) das mesmas espécies utilizadas para a análise filogeográfica, a fim de entender os padrões evolutivos envolvidos nas diferenciações intra e interespecíficas e estabelecer um arcabouço temporal; e 5.estudos citogenéticos (cromossômicos) em algumas espécies selecionadas da Ordem Rodentia (roedores). A Mata Atlântica destaca-se como a principal paisagem florestal no leste do território brasileiro. A origem e a história biogeográfica (isto é, os padrões e processos de distribuição dos animais e vegetais, baseados na história da paisagem) dos elementos que a compõem ainda não foram elucidadas satisfatoriamente. A presença de certos tipos de plantas ou vegetais, ditas basais em função da sua antiguidade, tem sido interpretada como evidência de uma origem antiga, provavelmente anterior ao Período Cretáceo (entre 145 e 65 milhões de anos atrás). A existência de espécies comuns às florestas Amazônica e Atlântica, separadas por uma área conhecida como “diagonal das formações abertas brasileiras” (que correspondem ao Cerrado e à Caatinga), indica uma conexão recente, entre 10.000 e 12.000 anos atrás, numa época mais úmida. Mas a Mata Atlântica também apresenta relação biogeográfica com o Cerrado, com o qual compartilha extensa zona de transição, e com a Caatinga, através de enclaves florestais. Portanto ela não é homogênea na distribuição e composição de suas espécies e apresenta tanto grandes áreas de transição faunística quanto prováveis zonas de endemismos (isto é, de espécies típicas daquela paisagem). Na Mata Atlântica já foram registradas aproximadamente 229 espécies de mamíferos, das quais cerca de 73 são endêmicas (~32%), sendo os roedores, com 39 espécies, responsáveis por mais de 17% desses endemismos. Apesar de tudo que se sabe sobre a sua fauna de mamíferos, os padrões de distribuição e os limites das zonas de diversidade na Mata Atlântica ainda não foram adequadamente compreendidos. Estudos sugerem a existência de quatro regiões mastofaunísticas (isto é, de fauna de mamíferos) na Mata Atlântica: 1.“região nordeste” – entre a foz do rio São Francisco e o Rio Grande do Norte, com espécies comuns às florestas Atlântica e Amazônica (como o tamanduá-mirim e o macaco-guariba); 2.“sudeste da Bahia” – desde o norte do Espírito Santo até o sul da foz do rio São Francisco, com formas endêmicas próprias (rato-do-cacau e ouriço preto); 3.“Rio de Janeiro” – entre o Espírito Santo até São Paulo na altura do Trópico de Capricórnio, também com mamíferos endêmicos (o sagüi-da-serra e o rato-do-mato-laranja); e 4.“região sul” – ao sul do Trópico de Capricórnio até o norte do Rio Grande do Sul, que apresenta algumas espécies características (como o morcego-orelhudo). 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O primeiro, agrupa espécies de distribuição disjunta, relacionadas às áreas abertas, florestais ou montanhosas (como cuícas d’água, gambás, doninhas, tapitis, e roedores, e espécies da família dos sagüis); um outro padrão está relacionado aos “refúgios do Quaternário”, isto é, ambientes que permaneceram aquecidos durante eras de glaciações (nestas áreas viveriam, até hoje, o sagüi comum e as espécies de mico-leão) e um terceiro padrão “em mosaico”, que não pode ser explicado diretamente através de causas históricas (incluindo o rato-do-brejo, alguns roedores arborícolas e tatus). A maioria das áreas de endemismos propostas e as “causas” dos atuais padrões de distribuição dos mamíferos da Mata Atlântica apresentam relação com locais propostos como refúgios do Período Quaternário (de 1,8 milhão de anos atrás até hoje), quando o planeta sofreu diversas glaciações (resfriamento global e extensão das calotas polares sobre vastas áreas). No entanto, apesar das evidências de dados moleculares (pesquisas genéticas), vários autores contestam a influência das glaciações sobre a diversificação das espécies dos mamíferos na América do Sul tropical, atribuindo os padrões a diferentes episódios. Apesar da forma original contínua da Mata Atlântica, no que diz respeito aos mamíferos, existem várias “Matas Atlânticas”. A Chapada Diamantina, por sua posição como um enclave misto de matas semidecíduas, sempre-verdes, campos rupestres e cerrado, separada da Mata Atlântica costeira do sul da Bahia por uma ampla faixa de vegetação aberta, constitui uma região de florestas isoladas, de afinidades faunísticas até agora inexploradas. Segundo pesquisas recentes, as aves da região apresentam elementos em comum com as áreas abertas próximas, de Caatinga e Cerrado, e com a Mata Atlântica. 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O levantamento taxonômico e faunístico permite estabelecer as afinidades da fauna de mamíferos da Chapada Diamantina com os biomas em torno, respondendo às seguintes questões: 1.estes mamíferos estão mais relacionados ao Cerrado, à Mata Atlântica, ou são uma combinação destes dois biomas?; 2.se esta última alternativa for aceita, em que proporção estes biomas contribuem para a Chapada?; e 3.a análise populacional irá permitir descrever e entender os padrões de variação geográfica e suas causas (históricas ou ecológicas) ao combinar o estudo da variação morfométrica (medidas e formas) com a análise genética? Estão previstas expedições de coleta, com duração de cerca 45 dias cada, para levantar a fauna de mamíferos na região da Chapada Diamantina, e das áreas comparativas do Vale do Jequitinhonha e da região litorânea do sul da Bahia. Nas expedições serão empregados métodos diferentes e complementares, de forma a amostrar da maneira mais completa, neste espaço de tempo, a diversidade de mamíferos existente. As capturas serão realizadas com armadilhas de captura-viva e de mola, armadilhas-de-queda e redes de neblina para morcegos. De todos os espécimes capturados e sacrificados, será coletado material genético. Essas amostras de tecido serão conservadas e armazenadas na coleção de tecidos do laboratório de Zoologia de Vertebrados da UERJ. A pele e os esqueletos serão depositados no Museu Nacional do Rio de Janeiro e no Museu de Zoologia da USP. É importante esclarecer que serão coletados apenas 3 a 5 exemplares por espécie por localidade (conforme licença do IBAMA no 014/2003, proc. 02001.009374/02-86). Outros espécimens serão soltos após identificação. As espécies ameaçadas de extinção, segundo portaria no 1522 de 19/12/1989, não serão coletadas, sendo registradas apenas por observação e evidências indiretas. A presença de espécies na área será confirmada apenas a partir de exemplares observados e/ou coletados, sendo obrigatoriamente identificados pelos especialistas da equipe. Os espécimes coletados serão sacrificados de acordo com os preceitos humanitários seguidos pela comunidade científica internacional, buscando assim minimizar qualquer tipo de sofrimento. Será realizada a análise citogenética (dos cromossomos) dos espécimes capturados, a extração do material genético, com a amplificação e seqüenciamento do ADN para a análise filogenética. Além disso, será estudado o material já depositado em coleções científicas do Museu Nacional e Museu de Zoologia da USP. Os crânios de algumas espécies serão medidos, para comparação com o material coletado. Serão realizadas também análises morfológicas, visto que a identificação das espécies coletadas terá como base as características anatômicas externas e os caracteres crânio-dentários. 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Diversidade dos mamíferos da Chapada Diamantina: biogeografia, variação genética e diferenciação morfológica A origem e a história biogeográfica (isto é, os padrões e processos de distribuição dos animais e vegetais, baseados na história da paisagem) dos elementos que a compõem ainda não foram elucidadas satisfatoriamente. 2003-12-03 Ciências Biológicas Para entender a origem e as relações dos mamíferos da Chapada Diamantina, dois grandes grupos de trabalho deverão nortear a pesquisa: 1.o levantamento faunístico/taxonômico e a comparação destes resultados com dados sobre o Cerrado e a Mata Atlântica; e 2.o estudo populacional da variação em diversos níveis (da seqüência dos genes e do tamanho craniano) em algumas espécies que apresentam amostras em tamanho ideal e que então permitam uma análise comparativa. Estes dois grupos de trabalho estão definidos tanto do ponto de vista operacional como teórico. O levantamento taxonômico e faunístico permite estabelecer as afinidades da fauna de mamíferos da Chapada Diamantina com os biomas em torno, respondendo às seguintes questões: 1.estes mamíferos estão mais relacionados ao Cerrado, à Mata Atlântica, ou são uma combinação destes dois biomas?; 2.se esta última alternativa for aceita, em que proporção estes biomas contribuem para a Chapada?; e 3.a análise populacional irá permitir descrever e entender os padrões de variação geográfica e suas causas (históricas ou ecológicas) ao combinar o estudo da variação morfométrica (medidas e formas) com a análise genética? Estão previstas expedições de coleta, com duração de cerca 45 dias cada, para levantar a fauna de mamíferos na região da Chapada Diamantina, e das áreas comparativas do Vale do Jequitinhonha e da região litorânea do sul da Bahia. Nas expedições serão empregados métodos diferentes e complementares, de forma a amostrar da maneira mais completa, neste espaço de tempo, a diversidade de mamíferos existente. As capturas serão realizadas com armadilhas de captura-viva e de mola, armadilhas-de-queda e redes de neblina para morcegos. De todos os espécimes capturados e sacrificados, será coletado material genético. Essas amostras de tecido serão conservadas e armazenadas na coleção de tecidos do laboratório de Zoologia de Vertebrados da UERJ. A pele e os esqueletos serão depositados no Museu Nacional do Rio de Janeiro e no Museu de Zoologia da USP. É importante esclarecer que serão coletados apenas 3 a 5 exemplares por espécie por localidade (conforme licença do IBAMA no 014/2003, proc. 02001.009374/02-86). Outros espécimens serão soltos após identificação. As espécies ameaçadas de extinção, segundo portaria no 1522 de 19/12/1989, não serão coletadas, sendo registradas apenas por observação e evidências indiretas. A presença de espécies na área será confirmada apenas a partir de exemplares observados e/ou coletados, sendo obrigatoriamente identificados pelos especialistas da equipe. Os espécimes coletados serão sacrificados de acordo com os preceitos humanitários seguidos pela comunidade científica internacional, buscando assim minimizar qualquer tipo de sofrimento. Será realizada a análise citogenética (dos cromossomos) dos espécimes capturados, a extração do material genético, com a amplificação e seqüenciamento do ADN para a análise filogenética. Além disso, será estudado o material já depositado em coleções científicas do Museu Nacional e Museu de Zoologia da USP. Os crânios de algumas espécies serão medidos, para comparação com o material coletado. Serão realizadas também análises morfológicas, visto que a identificação das espécies coletadas terá como base as características anatômicas externas e os caracteres crânio-dentários. Nas análises morfométricas, serão empregadas medidas corpóreas (padrão em estudos de mamíferos) e medidas cranianas. As classes etárias relativas serão determinadas com base na eclosão e desgaste dentários, de forma a selecionar os indivíduos adultos que serão utilizados na caracterização e comparação das espécies. https://repositorio.canalciencia.ibict.br/api/items/23620 https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/941bacc8471ebd0fea0f8a16207735ee07ce389e.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/33eccf02f09806719c9367a03bc605ba57e0715d.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/a9b05e15a44c169c930b3a72e087c7c078c6c276.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/578475c6e3b0c7dc4b3f8f9aa632d787445a0826.jpg https://repositorio.canalciencia.ibict.br/files/original/c31edf059f8f5ff2225d8233965e71a02a563213.jpg