Augusto Ruschi

Biólogo, topógrafo, advogado, pesquisador e professor, Augusto Ruschi nasceu na cidade de Santa Teresa, no Espírito Santo. Instigado e deslumbrado pela natureza desde muito criança, Ruschi viveu sua vida cercado pela exuberância da fauna e da flora brasileiras. Graduou-se em Agronomia, mas sua paixã...

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Formato: Online
Publicado em: 2022
Acesso em linha:https://canalciencia.ibict.br/historia-das-ciencias/cientista?item_id=22938
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Resumo:Biólogo, topógrafo, advogado, pesquisador e professor, Augusto Ruschi nasceu na cidade de Santa Teresa, no Espírito Santo. Instigado e deslumbrado pela natureza desde muito criança, Ruschi viveu sua vida cercado pela exuberância da fauna e da flora brasileiras. Graduou-se em Agronomia, mas sua paixão era a Biologia, sobretudo, os beija-flores e as orquídeas, os quais estudava em um pequeno laboratório doméstico, montado por ele mesmo, durante sua juventude. As coleções que montou durante muitos anos receberam ilustres visitantes - do entomólogo italiano Filippo Silvestri e do zoólogo brasileiro Cândido Firmino de Mello Leitão. Ruschi formalizou sua carreira científica quando contratado como pesquisador pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ), em 1939. Heloísa Alberto Torres, sua antiga professora e então diretora da instituição, foi uma das responsáveis pela entrada de Ruschi no MNRJ, onde posteriormente, também atuou como professor. Lá, o cientista especializou-se em Botânica e elaborou um grande projeto de estudos de orquídeas no Espírito Santo. Tal projeto criou a Estação Biológica do MNRJ, permitindo que Ruschi, seu então diretor, voltasse ao campo, a andar pelas matas de sua cidade natal, a estudar e desenhar diversas espécies dessas flores. Depois da morte de seu pai, José Ruschi, em 1943, Augusto herdou o sítio onde passou boa parte da vida e também os espaços de investigação científica que sua família construiu no terreno da residência - quais sejam: orquidários, viveiros e laboratórios. A Chácara Anitta, como era chamado o espaço, foi transformada por Augusto Ruschi no Museu de Biologia Professor Mello Leitão (MBML), em homenagem ao pesquisador que havia manifestado forte interesse nas coleções zoológicas e botânicas mantidas pelos Ruschi. Desde sua criação, o MBML passou a editar um periódico chamado Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão, o qual veiculava publicações tanto da área da Biologia, como da Botânica e da Zoologia, como dos campos da Antropologia e da Geologia. Além disso, o Boletim era composto pelas sessões de “Atos Administrativos”, “Divulgação” e “Proteção à Natureza”. Ruschi publicava muitos de seus estudos nessa revista, cujo repertório de trabalhos restringia-se quase exclusivamente aos textos do pesquisador. O cientista brasileiro também engajou-se em processos de demarcação de áreas de proteção ambiental. Durante a década de 1950, quando a industrialização passou a ganhar nova força em diferentes lugares do mundo e no Brasil, a intensidade do desmatamento nas florestas brasileiras era vertiginosa, o que indignava Ruschi profundamente. O pesquisador passou, assim, a defender como nunca a preservação desses biomas, envolvendo-se em manifestações de repúdio que se referiam, especificamente, à Mata Atlântica capixaba. Envolveu-se na promoção de campanhas educativas e sugeriu a criação de uma entidade público-privada chamada Sociedade Brasileira de Proteção à Natureza (SBPN). Baseada na União Internacional para Conservação da Natureza (do inglês, International Union for Conservation of Nature, IUPN), a SBPN zelaria pela preservação de ecossistemas brasileiros em prol do coletivo e das gerações futuras, através de parcerias entre o Estado e a sociedade civil, consideradas fundamentais pelo cientista para tornar possível a conservação dessas áreas naturais. Além disso, a SBPN, estudaria espécies da fauna e flora brasileiras ameaçadas de extinção, elaborando listas indicando riscos. A sociedade foi fundada na década de 1950, mas alguns anos depois substituída pela Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN). Considerado “Patrono da Ecologia do Brasil”, Ruschi aposentou-se no final de 1983, e, ao longo de sua carreira, envolveu-se em algumas polêmicas. Também durante a década de 1950, Ruschi promoveu o que chamava de “repovoamento de beija-flores” em algumas localidades brasileiras e de países vizinhos. O repovoamento caracterizava-se pela introdução de certo número de beija-flores de diferentes espécies nas áreas escolhidas. As aves poderiam ser, segundo o cientista, rastreadas, pois receberam anilhas numeradas. A partir da análise das rotas migratórias desses pássaros, eles poderiam ser classificados a partir de critérios de deslocamento. Ruschi esperava poder desenvolver, assim, modelos de dispersão geográficas de diversas espécies de beija-flores. Contudo, o pesquisador foi inquirido por alguns de seus companheiros de profissão, pois, em primeiro lugar, não possuía autorização para capturar ou manejar os animais. Além disso, os “repovoamentos” que Ruschi admitiu ter realizado poderiam ter trazido problemas, segundo certos ornitólogos, como a proliferação de espécies exóticas, a exportação ilegal de aves e o sofrimento infligido aos animais pelo deslocamento. Alguns pesquisadores ainda afirmavam que Ruschi utilizava os “repovoamentos de beija-flores” e suas investigações com orquídeas como moeda de troca para obtenção de favores políticos. Ruschi foi acusado de escolher determinadas áreas para o “repovoamento” a pedido de autoridades e de ter “batizado” novas espécies em homenagens a políticos, empresários, apoiadores e financiadores de seus projetos. A trajetória científica de Ruschi, bem como sua contribuição para a ciência brasileira, não devem ser invalidadas em vista dessas críticas. Como qualquer cientista, Augusto Ruschi desenvolveu seus trabalhos científicos sob a influência de convicções pessoais filosóficas, políticas, sociais e culturais.